sábado, 7 de dezembro de 2013

Vayigash e o tempo de chorar/tempo de levantar e oferecer sacrifícios.

 
Em gn 45:27 lemos: “vendo Jacó, seu pai, os carros que José enviara para levá-lo, reviveu-lhe o espírito.”
 
Jacó esteve de luto pela perda de seu filho José por 22 anos, desde que José foi vendido por seus irmãos, aos 17 anos, até que ele se tornou governador do Egito, e tendo passado os sete anos de fartura e mais dois de fome, finalmente ele teve a alegre notícia de que seu filho ainda estava vivo.
É reconhecido que Jacó decaiu de seu nível espiritual com a perda de seu filho preferido. Deixara o vigor, a alegria de viver e abandonara o costume de oferecer sacrifícios ao Eterno. De certa forma, ele apenas “sobrevivia”.
 
Ec 7:2 “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.”
O luto traz consigo algo inevitável, a dor pela perda de alguém que nos é querido e ninguém pode mensurar a dor alheia, mas é preciso seguir adiante e viver, não apenas sobreviver.
Quando Eclesiastes nos fala de que é melhor ir onde há luto, isso não significa “vivermos de luto”, mas nos faz um convite à reflexão acerca do fim de todos os homens e que tomemos isso em consideração.
 
Que lição tiramos disso? Que é preciso viver com sabedoria. Que tomemos em consideração que depois que a vida cessa, aí sim, não temos mais nada a fazer, mas desfrutar os dias, correr atrás de nossos objetivos, lutar por aquilo que acreditamos, é obrigação dos vivos.
 
No judaísmo, o periodo de luto, chamado de Shiva, é dividido em cinco partes:
• aninut - tempo que decorre entre a morte e o sepultamento. É o período mais doloroso e intenso.
• Shivah - os primeiros sete dias, que se subdividem em duas partes, com os três primeiros dias após o funeral, como tempo para o choro e lamentação. Depois nos próximos dias da primeira semana, o enlutado já é capaz de falar de sua perda e aceitar o consolo. Isso não diminui sua dor, mas já o prepara para seguir a vida.
• Sheloshim - os primeiros trinta dias, quando o enlutado já é encorajado a sair de casa, retomando ao convivio social lentamente.
• Primeiro ano - Durante esse primeiro ano após a morte do ente querido, devemos buscar retomar nossa vida, aos poucos deixarmos de lado a dor e retomarmos a alegria de viver.
 
Jacó ficou 22 anos longe da alegria, sua vida foi deixada de lado, inclusive na Torah, quando passou a falar basicamente de José, desde que foi vendido por seus irmãos. Jacó só ressurge com a notícia de que seu filho amado estava vivo.
E o que ele fez, logo que lhe “retornou o espírito”? Ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai Isaque.
 
O salmista Davi nos diz: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Todos teremos dias tristes, e que sejam poucos, mas é preciso levantarmos do pó, e continuarmos a viver nossos dias com gratidão ao Eterno.
Quando você for a uma casa onde há luto, lembre-se de meditar que você ainda está vivo e que deve continuar a correr atrás de seus ideais, ainda é tempo de realizar seus objetivos e tornar seus sonhos em realidade.
 
É tempo de se levantar, você tem ofertas de sacrifícios de agradececimento ao Eterno para fazer. Não perca vinte e dois anos de vida se lamentando, sem o espírito; chore, pranteie pelo seu morto, mas se levante para viver. Nem Deus e nem seu ente querido gostariam que você desistisse de viver. Isso nunca foi prova de amor, mas sim, falta de sabedoria.

* Baseado em parte da explanação da parashah pelo Rosh Yehudah, em Curitiba, dia 07/12/2013.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Miketz: “Dos meus pecados me lembro hoje...”


Miketz é a parashah que marca a virada na vida de José, de escravo prisioneiro a governador do Egito. O texto vai de Gn 41:1 a 44:17.
Por incrível que pareça, há um verso que chama a atenção nessa parashah e que não tem nada a ver com José, mas com o copeiro-mor do faraó.
Gn 41:9 diz: “Então, falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Dos meus pecados me lembro hoje.”
Por qual razão ele disse isso? Parece totalmente fora de contexto, uma vez que nos versos anteriores temos o relato dos sonhos do faraó e o fato de ninguém ser capaz de interpretá-los diante do governante egípcio.
Apenas contextualizando, o copeiro estivera preso junto com o padeiro do faraó e José por um tempo; lá, ele e o padeiro tiveram sonhos, e José dera a interpretação, e aquilo que sonharam ocorreu em três dias. Então o copeiro saiu da prisão e se esqueceu de José.
Talvez o grande pecado do copeiro-mor tenha sido a ingratidão por José, a quem ele recorreu para o acalmá-lo e interpretar seu sonho. Mas isso não é o importante agora, até porque ele falou “dos meus PECADOS me lembro  hoje” (no plural).
 
O fato é que todos cometemos erros, pedimos ajuda, somos em algum momento amparados por algum ombro amigo, aconselhados, mas acabamos esquecendo. Só que isso volta, e também em determinada situação, o Eterno nos faz lembrar de nossos pecados. A questão é: o que fazemos com essa tal lembrança?
 
O copeiro imediatamente ao se lembrar de José, contou ao faraó que ele era um “interpretador de sonhos” e isso bastou para que a história de José na prisão mudasse.
 
Precisamos ter a consciência tranquila. Quando nos lembramos de algo errado, precisamos agir, e tentar corrigir; nunca esconder em algum lugar lá no fundo da nossa memória, pois se assim o fizermos, estaremos pelo resto da vida carregando um peso na consciência.
 
O próprio mestre Yeshua disse: “se trouxeres a tua oferta ao altar e aí  TE LEMBRARES de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta.” (Mt 5:23,24)
É preciso agir enquanto nossa consciência acusa e nossa memória é presente. Então, quando te lembrares dos teus pecados, corrige.
 
O próprio rei Davi foi por tempo atormentado pela lembrança de seus pecados. Num dos seus salmos mais famosos ele dizia: “porque eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3)
 
O profeta Jeremias alertava a Israel:
“Dize-lhes mais: Assim diz o Senhor: Cairão os homens e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão e não voltarão? Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia contínua? RETÉM O ENGANO E NÃO QUER VOLTAR. Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto, ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um se desvia na sua carreira como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha.” (Jr 8:4-6)
 
Não retenhamos o engano, quando o Eterno nos fizer recordar de nossos pecados, façamos o correto, e o correto é corrigir os erros. Encare como uma segunda chance que Ele nos dá de buscarmos o arrependimento. Lembre-se que um simples gesto do copeiro do faraó mudou a história de José. Talvez um gesto nosso possa mudar nossa própria história e a de outras pessoas. Até porque o salmista diz:“um coração quebrantado e contrito não o rejeitarás, ó Eterno!” (Sl 51:17)
 
Aproveite sua segunda chance, boa memória pode nos livrar de continuarmos em dívida com alguém ou com o Eterno.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vayeshev e o risco dos elogios. Quem aceita que outros sejam elogiados?


A parashah de Vayeshev fala praticamente durante o capítulo todo de Gn 37 sobre o ciúmes e o ódio que os irmãos de José passaram a nutrir por ele. E é interessante quanto ciúmes e inveja fazem mal e mostram nossa personalidade e caráter.
Ao observar o teto de Gn 37:2-4 temos alguns detalhes interessantes:
- José trazia más notícias de seus irmãos ao seu pai Jacó.
Isso não fez com que seus irmãos o odiassem, ou tivessem ciúmes dele. É evidente que ninguém fica feliz quando outros expoem suas características negativas. Os irmãos de José não ficavam felizes, mas isso não abalava sua relação de irmãos.
- Israel amava mais a José do que os demais filhos.
Jacó não tinha José por seu filho favorito pelo fato de este estar sempre do lado dele, ou contar o que os irmãos faziam de errado, ou mesmo porque José era o filho "certinho". José era mais amado por ser o filho da velhice.
Era assim e o é até hoje; o caçula normalmente é o filho mais "bajulado, protegido" e eventualmente "mais amado". Isso também não fez com que os irmãos odiassem a José, mesmo porque ele era o mais amado desde que nasceu, e ele já tinha 17 anos. Não há uma citação de que José fosse odiado pelos irmãos até essa idade.
- Jacó deu uma túnica colorida para José...
Aí sim, surge o ódio dos irmãos pelo caçula. Aí surge o ciúmes. Tanto que, quando José foi alvo do ódio e acabou sendo jogado no poço, a primeira coisa que os irmãos fizeram com ele foi tirar sua bela túnica.
 
A questão não é ser mais ou menos amado, é aceitar que outro seja elogiado, outro receba o mérito, outro ganhe presentes. Isso é o que expoe nosso caráter.
 
Qual o erro de Jacó? Não sei dizer ao certo, mas o problema é o fato de que não há nenhum relato de ele presentear qualquer dos outros dez irmãos que assim como José, trabalhavam, apascentavam o rebanho, e cuidavam do que era do amado pai. Julgo que todos os filhos tinham alguma característica boa, não é possivel que você tenha só filhos ruins e um único que "o máximo".
Se vale um conselho, sugiro que todos sejamos capazes de encontrar e elogiar características positivas em todos os filhos, genros, netos, funcionários, companheiros de trabalho, etc... mas se não o formos, que sejamos capazes de elogiar "os favoritos" em particular; isso evitaria conflitos como o de José e seus irmãos.
 
Mas e o erro dos irmãos, qual foi? A falha deles está no fato de não aceitar que outro ganhasse presente, que fosse "reconhecido" publicamente. Na verdade, a mais absoluta maioria de nós tem essa característica negativa; a diferença é que conseguimos a ocultar, até que.... até que outro seja reconhecido.
 
Já passei por isso algumas vezes recentemente; sem citar nomes (pra não suscitar mais ira) elogiei algumas pessoas que nos visitavam na kehilah, em público. Foi o que bastou pra suscitar o ódio de alguns, que assim como os irmãos de José, agiram boicotando o trabalho, sugerindo que não fossem mais à kehilah, porque o rosh não reconhecia a eles.
Depois de meses, senti no coração de elogiar publicamente no meu blog uma pessoa, por seus méritos; pronto! Foi o que bastou para novamente ser alvo de críticas.
Claro, não sou estúpido de dizer que eu também não sinto ciúmes. Todos sentimos! Mas agir dessa maneira é um erro. Que tal trocarmos o ciúme pelo orgulho? Pirkê avot 4:15 fala: “que a honra do teu discípulo seja tão querida para ti como a tua própria honra.”
 
Vamos ver um outro exemplo bíblico: Saul e Davi.
1 Sm 16 traz o relato de quando Saul era atormentado por um espírito ruim. Então lhe foi sugerido que alguém tocasse uma boa música para ele se acalmar. E chegaram a Davi, de quem foi dito: “sabe tocar, é forte e valente, homem de guerra, de poucas palavras e de boa aparência.” (1 Sm 16:18)
Depois de Davi tocar ao rei, e tendo-lhe acalmado, a biblia diz que o rei o amou, e então Saul mandou dizer a Jessé: “deixa seu filho perante mim, pois achou graça aos meus olhos.” (1 Sm 16:21,22)
 
Davi era um bom servo, amado pelo rei, mas... tudo começou a mudar, e quando mudou?
1 Sm 18:7 - as mulheres cantavam e diziam umas às outras: Saul feriu os seus milhares, porém, Davi, os seus dez milhares.”
Pronto! Acabou a alegria! Davi passou de amado a odiado rapidinho.
1 Sm 18:8,9 - Saul se indignou muito, e aquela palavra pareceu mal aos seus olhos; e disse: Dez milhares deram a Davi, e a mim somente milhares; na verdade, que lhe falta, senão só o reino? Daquele dia em diante passou a olhar a Davi com maus olhos.
 
Devemos observar as pessoas: cuidado com aquelas que só querem ser elogiadas, porque no dia em que outro for elogiado, ela revela seu lado mau.
 
Cabe ressaltar em ambos os relatos, tanto de José quanto de Davi, que eles nada fizeram para atrair o ódio das pessoas. Ambos continuaram amando e respeitando, tanto que, quando José teve a oportunidade de se vingar de seus irmãos, ele os tratou bem, os acolheu, e Davi, quando teve a oportunidade de matar o rei Saul, mesmo incentivado por seus soldados, ele não ousou se levantar contra o rei, e apenas ao cortar a orla do manto de Saul, Davi já sentiu doer-lhe o coração, mas também com essa atitude conteve os seus homens de fazer o mal.
 
Sempre fui adepto de elogiar, de reconhecer o mérito das pessoas, como um incentivo para que continuem a crescer, mas hoje entendo que devemos tomar maior cuidado a fazê-lo, de preferência sozinho, em particular.
Que tenhamos o mérito de saber reconhecer que sim, todos os outros (e você também) possuem virtudes dignas de serem elogiadas e reconhecidas. Se ninguém te reconhece, isso não é problema, pois o Eterno nos vê, e Ele sabe ver nossos méritos. Que nossos méritos venha dEle e não de homens!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Melhores que Esaú?


A parashah de Vayislach (Gn 32:4 a Gn 26:43) nos traz um relato interessante sobre a vida de Jacó, e que nem sempre é abordado, porque esse assunto incomoda muita gente. A busca pelo perdão, porque sempre é legal quando as pessoas vêm até nós e pedem perdão, mas nem sempre achamos legal termos uma atitude de humildade de ir atrás e pedir perdão.
Jacó havia se separado de seu irmão havia mais de vinte anos, fugido por ter enganado a Esaú e tomado sua bênção. Por longos vinte anos ele carregou isso no coração até que finalmente decide voltar e resolver essa situação ruim.
 
Gn 32:21 (Torá) - Eis aqui teu servo Jacob, atrás de nós. Porque disse (para si): Apaziguarei sua ira com o presente que vai diante de mim, depois verei seu rosto; e talvez me aceite.
 
Dias atrás eu conversava com alguém sobre o perdão, e a pessoa me relatou algo semelhante a isso: Fulano queria dar um celular novo e chique para outra pessoa, na busca por reconciliação e pediu um conselho, e teve como resposta algo como: "Você acha que vai conseguir resoler as coisas dando presentinho, comprando a pessoa?"
 
Independente da forma usada, o importante é buscar a reconciliação, o perdão. Jacó estava errado em mandar seus servos levarem presentes a Esaú? Não! Essa foi uma maneira de aplacar a ira, a mágoa de Esaú. Quando Jacó diz: "Talvez ele me aceite" significa que ele esperava o perdão, estava ansioso por isso, mas não acreditava que apenas dar presentes resolveria a situação, afinal eram vinte anos de mágua, e seu irmão vinha com quatrocentos homens na sua direção.
 
Quando finalmente se encontraram, ambos frente a frente, Jacó teve uma atitude surpreendente (quem faria isso hoje?) Gn 33:3 nos diz: Ele passou diante deles e prostrou-se sete vezes, até chegar ao seu irmão.
Presentes podem até ajudar a diminuir a ira, quebrar o ódio, o desapontamento, mas o que transforma isso em algo realmente bom é a atitude. Jacó se prostrou diante de Esaú por sete vezes. Eventualmente, não basta você pedir desculpas e sair falando: "Ah, eu já pedi desculpas, agora se não quer desculpar, azar dele (ou dela)"
 
O grande problema hoje é que perdemos a capacidade de buscar o perdão. Quanto mais alto seu "status", mais alta também vai ficando sua capacidade em reter o perdão, em se sentir magoado e exigir que outros se humilhem perante ti, mas e você? Quando vai pedir perdão?
Jacó saiu pobre da casa de seus pais, fugido de Esaú, mas ao regressar, ele já estava relativamente rico, seu rebanho, se dividia em dois grandes bandos. Ele podia afinal chegar diante de Esaú e exibir sua riqueza, mas não, ao invés disso fez algo melhor; ele se prostrou, reconhecendo seus erros. E o que vem depois?
 
Gn 33:4 E correu Esaú a seu encontro e abraçou-o, e lançou-se a seu pescoço e beijou-o, e choraram.
Valeu a pena a atitude de Jacó? Claro que sim! Nos versos seguintes temos que até os servos, e filhos de Jacó se prostraram diante de Esaú, num claro sinal de que a boa atitude se dissemina para seus servos e filhos. Se quer ter filhos humildes, seja humilde.
 
Depois desse episódio, cada um seguiu seu rumo, mas Jacó já não mais carregava no coração a amargura de ter agido errado com seu irmão.
 
A Bíblia diz: "Há tempo para todas as coisas, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de estar calado e tempo de falar!" (Ec 3)
 
Nos escritos da Brit Chadashah, em Efésios 4:26,27 diz: "Irai-vos e não pequeis. Não se ponhao sol sobre a vossa ira. Nem deis lugar ao diabo."
Sei que às vezes, ficamos irados (e digo que ficar irado não é pecado, o pecado vem daquilo que você faz com sua ira) mas carregar ódio, inveja, mágoa durante vinte anos. Pense em Jacó. Quanto sofrimento dentro daquele pobre coração de um homem?! NÃO VALE A PENA! Tenha um coração leve, suave. Deixe-se levar por coisas boas, concentre-se nas coisas boas da vida.
 
E porque disse no título desse post "Melhores que Esaú?" Porque teve a atitude também generosa de perdoar. Que abraço gostoso deve ter sido aquele entre ele e seu irmão gêmeo!!!!
 
Por fim, encerro com duas citações; 
- A primeira vem de nossos sábios do Talmude, em Pirkê Avot, capítulo 5, mishnah 15: "Há quatro tipos de temperamento: O que é fácil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, a sua perda é compensada pelo seu ganho. O que é difícil de encolerizar-se e difícil de pacificar-se, o seu ganho é anulado pela sua perda. O que é difícil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, é o chassid (piedoso). O que é fácil de encolerizar-se e dificil de pacificar-se, é o perverso, ímpio." Não carece de explicações!
- A segunda, vem daquele a quem chamamos de Mashiach: "Quando orardes deveis dizer: perdoa-nos, assim como nós perdoamos!" (Mt 6) O mesmo disse em Mt 5:20 "se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus."
 
Portanto, paremos de pensar e tenhamos ATITUDE. Atitude para buscar o perdão e para perdoar, e assim, com os nossos corações limpos e leves, possamos seguir nossos caminhos. Porque um abraço grátis traz muitos benefícios para nossa saúde mental, física e espiritual.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

E viveram felizes para sempre... só em conto de fadas!


A parashah de Vayetze já deixa pra trás a história de Isaque e começa a narrar a vida de Jacó, que mais tarde teve seu nome mudado por D-us para Israel. E a história de Israel não é um conto de fadas, é uma história real. Vamos aprender um pouco com a história real, porque ela nos ensina verdades e nos traz de um mundo de ilusões para a realidade.
 
Nessa parashah (Gn 28:1 a 32:3) temos os casamentos de Jacó. E estórias de contos de fadas giram em torno de romances. Mas a história verdadeira fala de amor!
 
Antes de entrarmos no assunto, pergunte-se a si próprio: Por quê eu me casei? Valeu a pena ter casado com essa pessoa? Se eu pudesse me casar de novo hoje, eu me casaria de novo com a mesma pessoa?
Assim como na parashah da semana passada vimos sobre o fato de muitos terem filhos, mas nem sequer saberem o que os esperava e o que fazer, nessa semana aprendemos que muita gente se casa, mas nem sequer sabem o que é um casamento, vivem apenas e tão somente "um conto de fadas".

Gn 29:30 - E entrou também a Raquel e amou também a Raquel mais do que a Léia.

Estamos muito acostumados a filmes, desde pequenas, nossas meninas são estimuladas com contos de fadas, histórias de princesas. Mas a vida real é bem diferente!
Já perceberam que os contos de fada contam estórias que em geral vão até o casamento dos personagens e encerra dizendo: e foram felizes para sempre! Por quê não mostram o que vem depois? Porque o que vem depois não é “um conto de fadas”. É vida real!

Tanto homens quanto mulheres são atraídos pelo que vêem. Homens mais, mas que mulher aceitaria se casar com um homem feio? Veja o que aconteceu com Jacó:

Gn 29:17,18 - Lia tinha os olhos tenros, porém Raquel era formosa de porte e de semblante. Jacó amava a Raquel e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel.

Por quê ele escolheu Raquel? Por sua beleza, evidente! E por quê não atentou para Lia? Alguns dizem que ela era vesga, tinha olhos baços (sem brilho)... mas atente à tradução da Torah: olhos TENROS (delicado, suave, amável). Não sabemos escolher, não sabemos ver o que é melhor para nós. Vamos muito mais pela aparência das pessoas, coisas... e Jacó foi enganado por Labão, e veja o que a Torah diz:
Gn 29:30 - E entrou também a Raquel e amou também a Raquel mais do que a Léia.
Jacó amou Léia? Claro que sim! Amou mais a Raquel.

Agora vejamos um outro exemplo, o pai de Jacó, Isaque:
Gênesis 24:67 Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe.
Quando Isaque amou a Rebeca? Depois que se casou com ela. Da mesma forma que Jacó amou a Léia. O texto bíblico não diz que Isaque amou Rebeca imediatamente após se deitar com ela, nem que ele foi consolado pela morte da mãe imediatamente. Ao longo da sua vida de casado com Rebeca, ela substituiu a mãe e ele se consolou. Casamento não é apenas um dia, não é apenas relação sexual.

Voltando a Jacó, embora ele tenha amado Rebeca, notemos os versos que relatam o fim de sua história:

Gênesis 49:31 Ali, sepultaram Abraão e Sara, sua mulher; ali, sepultaram Isaque e Rebeca, sua mulher; e, ali, eu sepultei Léia.
No lugar onde estavam sepultados seus pais e avós, a esposa de Jacó que mereceu tal honra de ali ser sepultada foi Léia e não Raquel.

Há uma grande diferença entre amor e paixão. Paixão passa, a gente consegue o que quer (ou não) e logo abandona.
Pirkê Avot 5:20 diz: todo amor baseado no interesse cessa com a causa que o fez nascer; mas o amor desinteressado perdura para sempre. Qual o exemplo do amor fundado em um interesse? O de Amnon por Tamar.

Leia a história de Amnon e Tamar, em 2 Sm 13:1-17 (15) Depois, Amnom a aborreceu com grandíssimo aborrecimento, porque maior era o aborrecimento com que a aborrecia do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te e vai-te.

O amor vem com o tempo, precisa ser cultivado, caso contrário continuaremos a acreditar em contos de fadas. É preciso saber porquê queremos nos casar. E quando nos casamos, é preciso reconhecer que aquela pessoa (por quem nos apaixonamos) está ali. Envelhecemos juntos, construimos e cultivamos o relacionamento.


Como nos diz o sábio em
Eclesiastes 9:9  Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade; os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida e do teu trabalho que tu fizeste debaixo do sol.
Deixemos de lado as estorinhas de contos de fadas, e passemos a viver a história, amando a pessoa com quem nos casamos. Se seremos "felizes para sempre"? Bem, isso só depende de nós, de quanto somos capazes de cultivar esse relacionamento e transformarmos o efêmero sentimento da paixão por um verdadeiro e belo sentimento de amor, cumplicidade, comunhão e generosidade para com a pessoa com quem nos encantamos... não aquela da beleza exterior, mas aquela que tem olhos TENROS.


 
 
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Toledot e os filhos? Por quê os queremos?

A parashah de Toledot (gerações) começa em Gn 25:19 e fala do nascimento de Esaú e Jacó, e o nascimento dos filhos é algo que sempre traz, ou deveria trazer, alegria aos pais. Jovens casais imaginam como será a aparência de seu primogênito, sonham com seu crescimento, etc... mas nascimento dos filhos não é algo tão simples assim. Vejamos:
Isaque e Rebeca se casaram, e passaram vinte anos esperando por isso, pois o texto bíblico diz: "Isaque orava insistentemente ao Eterno (e Rebeca também), porque ela era estéril e finalmente, depois de vinte anos, ela engravida." (Gn 25:21) Aí você deve pensar: nossa! que alegria a de Rebeca hein?! Estava realizando um sonho. Será?
Vejamos o que nos diz o verso seguinte: “E lutaram os filhos no seu ventre e ela disse: Se é assim, porque desejei isso eu?” (Gn 25:22)
Analisando bem a situação, uma mulher que é estéril, espera vinte anos, e quando engravida, vem gêmeos, isso certamente seria o máximo da alegria, mas não para Rebeca, ela ainda com os filhos dentro do ventre já reclamava.
Na verdade isso não é muito diferente dos dias atuais. Casais sonham com filhos, mas quando eles vem, não sabem como agir. A paternidade (e maternidade) exige do casal maturidade.
Ora, Rebeca diz: “se é pra ser assim, porque eu desejei ter filhos?” Será que uma mãe não sabe que filhos brigam? Quem tem mais de um filho sabe, eles vão crescer brigando, lutando por espaço e isso é da natureza. Desde os primeiros, quando Caim matou Abel, os filhos vão conquistar seu espaço dentro de casa (da maneira correta, não como Caim) e isso os prepara para a vida fora de casa.
Também é natural que os pais reclamem, questionem, corrijam seus filhos. O que não é certo é ficarem maldizendo, amaldiçoando sua propria geração. Quando dizem coisas como: “você é um burro! você não serve para nada! Não sei porque eu fui burra de ter filhos! Filho criado, trabalho dobrado! ou coisas semelhantes a essas, os pais não se dão conta de que estão fazendo que seus filhos se sintam rejeitados.
Não, não estou dizendo com isso que os filhos devam ser bajulados, que possam fazer as coisas do jeito que bem entenderem; não é nada disso! O que precisamos aprender é que, se desejamos ter filhos, precisamos tratá-los com respeito e dignidade (sim, os pais também devem respeitar os filhos).
Quando errarem, os filhos precisam da correção, e por isso a bíblia fala em provérbios 13:24 “O que retem a vara aborrece a seu filho...” mas é preciso entender que os filhos precisam se sentir AMADOS, desejados, pelos pais. Eu como pai, tenho o dever de os corrigir, mas também tenho o dever de fazê-los se sentirem amados. Por exemplo, nas duas frases abaixo, qual é a correta e qual a errada?:
- Meu filho, eu estou decepcionado com sua atitude, esperava que você agisse de maneira diferente.
- Meu filho, você é uma decepção para mim. Eu esperava que você fosse diferente.
Embora pareçam dizer a mesma coisa, as duas tem pesos diferentes, completamente diferentes: a primeira frase demonstra que o pai está triste pelo ERRO do filho. Já a segunda, demonstra que o FILHO é uma DECEPÇÃO.
 
Queiram ter filhos, mas queiram educá-los, amá-los e não lancem sobre eles todas as suas próprias frustrações. Filhos devem ser fonte de alegria, não apenas quando nascem, mas durante toda a vida. Quantos e quantos pais pegam o bebê no colo, abraçam, beijam, demonstram carinho, mas logo que crescem um pouco, os pais já não demonstram o menor carinho pelos filhos?
 
Filhos vão brigar entre eles mesmos, vão passar por desafios nas escolas, no trabalho, no casamento, vão cometer erros sempre, pois são humanos, mas, quem disse que pais também não os cometem?
É triste demais para os filhos saberem que seus pais só conseguem ver seus defeitos, e nunca os elogiam pelos acertos. Além disso, Shaul HaShaliach nos deu este conselhos: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4) Sim, é dever dos filhos honrar os pais, mas é também necessário que nós, pais, tratemos de maneira digna os nossos filhos, não apenas criticando os erros, mas ressaltando com alegria os acertos e as vitorias por eles alcançadas, pois, caso contrário, ainda quando estiverem no ventre, nossos filhos continuarão a ouvir: "porque desejei eu isso?"

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Chayeh Sarah e como as pessoas te vêem mesmo?


A parashah dessa semana conclui a vida do patriarca Avraham e começa falando da morte de sua esposa, Sarah. E de vez em quando, nos momentos difíceis, a gente percebe como é que as pessoas nos vêem.
Tem coisas que acontecem com todo mundo, por exemplo, você coloca uma roupa e acha que está arrasando e de repente alguém vem e te fala: que roupa hein?! Não tá nada legal! E pronto, a pessoa já fica arrasada. Ou o contrário também acontece: você tá lá se sentindo feio, e alguém vem e fala: ei, que roupa chique hein?! e seu semblante já muda. Isso mostra que no fundo, todo mundo dá valor à forma como é visto pelas demais pessoas. Mas a aparência não é o mais importante. O importante é como somos vistos além daquilo que vestimos.
 
Em Gn 23:6 os habitantes de Hebrom, dizem a Avraham (quando ele queria sepultar Sarah): “Ouve-nos, meu senhor: príncipe de Deus és no meio de nós.” Era assim que eles viam a Abraão.
 
Nosso patriarca vivia entre eles e no verso 4 é dito por ele: “Estrangeiro e morador sou entre vós..” Ao dizer que era primeiro estrangeiro e depois morador, nosso patriarca salienta que ele NÃO ERA COMO ELES, apesar de morar entre eles. As vezes isso é dificil de as pessoas perceberem e é bem verdade, não fazemos lá grande questão de mostrar que somos diferentes. Abraão sim, era diferente.
 
O que faz de nós “príncipes e princesas de Deus” no meio dos goym onde vivemos? Nossas atitudes. Não precisamos falar: eu sirvo a D-us. As pessoas percebem um brilho diferente em nós ou não. Não dá pra falar: eu sou isso, sou aquilo...isso não adianta nada. 
 
Está escrito em Jo 5:31,32 “Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Outro é o que testifica a meu respeito, e sei que é verdadeiro o testemunho que ele dá de mim.”

Abraão era visto como “príncipe de Deus” porque agia diferente, porque era especial, porque ele tinha atitudes diferentes dos gentios. Agora faça uma auto-análise e pontue o quanto você se parece com um príncipe de Deus ou um sapo do mundo.

- Num ambiente onde todo mundo fala palavrões, palavras torpes, besteiras inúteis, como você age? Fala igual ou é Abraão, fazendo questão de ser diferente, talvez saindo dali?
- Numa festinha, todo mundo bebendo latas e latas de cerveja, álcool, whisky, vinho... você faz o quê? Bebe uma latinha e chega, ou segue bebendo. O que Abraão, o príncipe de Deus faria?
- No bairro onde você mora, o que seus vizinhos dizem a teu respeito? Te veem como uma pessoa diferente? Veem em seu lar um lar de paz, ou apenas como mais um casal que literalmente vive aos berros com filhos e discutem direto, onde marido e mulher podem ser ouvidos ao longe?

Precisamos ser príncipes de Deus não apenas no shabat, na congregação, mas no dia-a-dia. Lembre-se que Abraão não frequentava sinagoga, ele era um "judeu" todos os dias. Precisamos ser diferentes, dar testemunho em casa, na escola, no trabalho, na faculdade, na roda de amigos, etc...

Se bebemos, se falamos linguagem vil, torpe, se agimos como os goyim, se nossas esposas não são submissas, se não são diferentes, se não acendem luzes do shabat, se não fazem chalah, se não praticam a tsiniut, como eles nos verão como príncipes e princesas de Deus?

Ser um principe de Deus não é ser uma pessoa chata, insuportável. Abraão não era assim, ele era gentil, tinha boa relação com as pessoas, tratava-as educadamente; intercedeu pelos homens quando Deus falou em destruir sodoma, era generoso, não gostava de brigar, preferiu perder ao ver seus pastores brigando com os pastores de Ló, tudo em nome da paz... mas não confunda, podemos praticar gentilezas com o mundo, só não podemos ser como eles. Foi isso que fez o povo olhar para nosso patriarca como um principe, mas não um principe qualquer, um principe de Deus.

Que testemunho as pessoas dão de nós? Somos principes, princesas ou sapos? Lembre-se: você não é o que você diz, mas sim aquilo que as pessoas testemunham que você é.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Vaierah: Sarah e um costume antigo.


 
 
A parashah de Vaierah compreende o texto de Gn 18:1 a Gn 22:24.

A imagem acima fala por si só, e retrata uma algo muito inerente ao ser humano: a curiosidade. É interessante observar como as pessoas são curiosas em relação à vida alheia; por isso mesmo, programas de tv como o Big Brother e revistas de fofoca fazem tanto sucesso.

O problema, que nem sempre percebemos, é que ficar “cuidando” da vida dos outros, acaba levando a uma série de outos erros. Vejamos por exemplo Sarah:

Abraão tinha recebido três homens, Sarah os viu, pois Abraão havia dito a ela para preparar alguns alimentos aos visitantes. Daí, a certa altura da conversa, perguntaram ao patriarca: Onde está Sarah? Abraão responde: Ela está na tenda..

A questão é que ela estava na porta da tenda sim, ouvindo a conversa alheia. Ainda que a conversa fosse sobre ela, ela não deveria estar ali. Esse é o erro de boa parte das pessoas. Ficar ouvindo conversas atrás da porta, mesmo com a justificativa de que: “estavam falando de mim, eu tenho o direito de ouvir” é errado. Como dito, isso conduz a uma série de erros, ou mal-entendidos. Vejamos Sarah:

Ela ouviu atrás da porta, e nao acreditou no que o anjo falava a Abraão, de que ela teria um filho. Riu disso. Mas alguém dirá, onde estão os erros?

- Ela ter se rido, significa que não acreditou no anjo, meio que achou graça, como se fosse piada.

- Falou mal de si e de seu esposo, chamando-o de velho (incapaz de gerar filhos)

- Negou que havia rido, ou seja, mentiu.

Não é necessário ficar atrás da porta par ter atitude semelhante à de Sarah. Há pessoas que utilizam de outras artimanhas pra saber qual o assunto da conversa em particular entre duas ou mais pessoas. Então, pra não ouvir atrás da porta (porque isso é feio) a pessoa inventa de levar uma água pro rosh, trazer uma bolachinha, um lanchinho, e assim, acha que “fazendo o bem” ninguem vai se dar conta de que na verdade ela entrou pra escutar um pouco da conversa. E essa atitude é ainda pior do que ouvir atrás da porta. Pior o fato de que quem ouve metade da conversa, sabe metade do assunto, e isso a leva a deduzir o restante, quase sempre, deduzindo errado.

Resista à curiosidade de ouvir conversas alheias, mesmo que estejam tratando de assuntos referentes a você. Se você tomar parte na conversa, resista a vontade de sair contando do assunto pra todo mundo que encontrar pela frente. Mas se ainda assim, isso ocorrer, assuma a responsabilidade por seu erro. Sarah falou: eu não ri. E ouviu como respostas: Isso não é correto, você riu sim!

Parta do principio de que “se eu não fui chamado na conversa, é porque ela não me diz respeito.” Assim, vamos todos evitar constrangimentos desnecessários.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Abraão e Sarah, sua linda mulher.

 
A parashah dessa semana, chamada Lech Lecha, vai de Gn 12:1 a Gn 17:27. Com o começo do relato de vida de nosso patriarca Avraham viajamos também em grandes histórias de um homem cheio de virtudes, mas, como sempre, ninguém é perfeito.
 
Antes de falar de Abraão, olhemos para nós mesmos. Quem são as pessoas que mais amamos? Quem são aqueles a quem realmente prezamos de forma singular, como únicos em nossa vida? Pense um pouquinho nessa pessoa. Depois de refletir sobre sua relação com ela por pelo menos dois minutos, aí sím, continue lendo o post.
 
Veja o que a Torah diz: “Foi quando se aproximou para entrar no Egito, disse a Sarai sua mulher: Eis que agora sei que és uma mulher formosa à vista.” (Gn 12:11)
 
Abrão já tinha seus setenta e cinco anos, e segundo alguns, já era casado com Sarai há 40 anos e nunca havia dito algo semelhante à sua esposa. 
Isso pode parecer normal para alguns, e na verdade muitos acham que o romantismo, demonstração de carinho é bobeira. Eu acho que não.
 
Porque Abrão demorou muitos anos pra dizer à esposa que ela era bonita (apesar de ela já ter 65 anos de idade)? Não, isso não foi uma demonstração de romantismo, mas o medo fez com o patriarca disse isso à esposa. Medo de morrer! Nos versos seguintes basicamente ele fala: "os egípcios te acharão linda e vão me matar pra ficar com você, então diga que é minha irmã, e pra te conquistar eles vão me deixar vivo e me tratar bem." Que hora pra fazer um elogio  hein?!
 
Isso não significa que ela não amava a esposa, ou que não a valorizasse, mas perceba que ele disse: "AGORA SEI QUE É UMA MULHER FORMOSA". Só agora?
 
Amamos nossos filhos, nossa esposa, nossos maridos, mas quantas vezes expressamos isso? Quantas vezes dizemos a nosso cônjuge: "você realmente é uma mulher bonita"? Ou para o marido: "eu tenho orgulho de você, meu marido"?
 
O problema é que, como Abrão, só diante da morte, quando vemos a morte de perto, e sentimos medo, inventamos de demonstrar sentimentos, de elogiar a quem amamos. Quanto tempo perdido!
 
Gastamos nosso tempo com muita coisa, trabalho, passeio, viagens, amigos, e não investimos tempo para admirar a beleza de nossos cônjuges. E pra que? Pra no fim da vida, num leito de morte, olhar pra esposa e finalmente falar: Eu te amo!, como você está bonita!?
 
Você pode achar que dizer para a esposa que ela está bonita e que a ama pode ser frescura, mas como você se sente quando alguém te elogia? Certamente não pensa: "você é um tolo, pra que me elogiar?" Ninguém fica triste em ser elogiado. E então porque você não faz isso com as pessoas que ama?
 
Hoje, ao inves de ver as noticias do jornal nacional, ao invés da novela, pare e fique olhando seu marido/esposa por uns instantes (de preferência enquanto ela estiver distraída) você vai se surpreender em ver detalhes tão bonitos, pequenos trejeitos que só sua esposa tem, o jeito gracioso como faz determinadas coisas. E depois fale: "eu gosto quando você faz assim, gosto de ver você preparar o jantar, o cuidado com nossas coisas,... querida, depois de todos esses anos, deixa eu te dizer mais uma vez: "eu sou um cara de sorte, por ter uma esposa tão bonita e graciosa como você!"
 
De minha parte, ficaria muito feliz se as esposas tambem fizessem o mesmo com o marido. E ambos fizessem o mesmo com os filhos, gabando-se das suas crias...
 
Garanto uma coisa, é melhor Abrão falar pra Sarai que ela é uma mulher linda, formosa, do que ver os egipcios o fazendo e depois ficar bravinho.
 
E lembre-se: O ELOGIO SINCERO É AQUELE QUE FAZEMOS SEM ESPERAR NADA EM TROCA. O ELOGIO MAIS GOSTOSO É AQUELE QUE RECEBEMOS SEM ESTAR ESPERANDO!
 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ki Tavo e a indecisão. Qual escolheremos? Oneg ou Nega? Bênção ou Maldição?


Ao lermos a Parashah de Ki Tavô (Dt 26:1 a 29:8) é inevitável que nos detanhamos nos textos de Dt 27:11 até Dt 28:28 que tratam de bênçãos e maldições.
 
O texto da Torah começa falando de que, quando os israelitas passassem o Jordão, entrando na Terra Prometida, eles estariam diante de dois montes, Ebal e Gerizim. No monte Ebal, estariam representantes de seis tribos para amaldiçoar, e no monte Gerizim, outras seis tribos, para abençoar.
 
E os levitas iriam proferir palavras: "Maldito o que fizer tal coisa... maldito o que fizer aquilo... e o povo deveria dizer: AMEN!"
 
Mas quem decidia para que lado a pessoa deveria seguir? Você vai para o Monte Ebal ou para o Monte Gerizim?
 
Essa não era (e ainda não é) uma opção que escolhemos na hora. É evidente que todos escolheriam seguir no rumo do Gerizim, pra ser abençoado! Basta ver as religiões por aí afora; todas oferecem bênçãos, mas quem quer mudar de atitude?
O monte para o qual rumamos é aquele que escolhemos ao longo de toda a vida, através de nossas atitudes.
 
Na próxima semana, na parashah de Nitsavim tem o verso que complemente isso: “Tomo hoje os céus e a terra por testemunhas contra vós, que tenho dado perante vós a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolherás pois a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando ao Eterno, Teu Deus, ouvindo a Sua voz e te achegando às Suas qualidades; pois isso é a tua vida e o prolongamento dos teus dias.” (Dt 30:19,20)
 
É uma pequena diferença em nossa vida hoje que fará grande diferença no futuro. Quando optamos pelo caminho certo rumo ao Gerizim, desde o começo, não corremos risco de pegar o atalho errado e cairmos no monte Ebal. Sobre isso há uma breve explicação de nossos sábios, na página 584 do Torá (Editora Sefer):
 
“Nossos sábios nos mostra uma singularidade ortográfica em hebraico: Nega, significa praga. Ôneg significa sorte ou felicidade. Estas duas palavras, Nega e Ôneg se diferem somente pela colocação da letra Ayin. Em "sorte" a letra Ayin está à direita; em praga, ela está à esquerda. O homem tem o poder, dizem os sábios, de converter Ôneg em Nega somente mudando a letra Ayin, ou seja, tem a liberdade de escolher entre o bem e o mal. Por outro lado, a direita, a destra, simboliza a ação e a força, enquanto a esquerda simboliza a fragilidade. O homem tem o poder de transformação. Pode fenecer diante da matéria ou lutar e triunfar pelo espírito. Pode escolher entre o bem e o mal, e está em suas mãos transformar o sofrimento em felicidade, em Ôneg.
Segundo a Torá, não basta libertar-se do mal. É preciso transformá-lo em bem, e as imensas potencialidades que o homem tem devem estar a serviço de Deus. Se ele obedece à voz do Eterno, virão sobre ele as bênçãos, ou, caso contrário, terá de suportar as Kelalot (Maldições) escritas nesta Parashah.”
 
E aí, de que lado vai colocar a letra Ayin? Coloque do lado certo, do lado DIREITO. E encontrarás um caminho de bênçãos, e o Monte Gerizim te aguarda!

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Ki tetsê e o poder do "pão e água"


A parashah de Ki Tetsê (Dt 21:10 a 25:19) nos ensina sobre muitas coisas e até por isso coloco pela primeira vez dois comentários da mesma parashah na semana. Agora para perguntar: "Você sabe o poder do pão e água?" As vezes a gente só dá valor a determinadas coisas quando as oportunidades já se passaram.

Dt 23:4 nos diz: "Porquanto não foram ao vosso encontro com pão e água, no caminho, quando saíeis do Egito..."

O texto fala dos amonitas e moabitas, que NÃO ENTRARIAM NA ASSEMBLÉIA DO ETERNO." Por conta disso, por não ser atencioso, bondoso com os israelitas quando estes saíram do Egito e cruzavam o deserto. Ah! Se eles soubessem a recompensa de um copo dágua e um pão... o problema é que assim como eles, deixamos as oportunidades passarem diante de nós e quando vemos, só nos resta dizer: "Eu não sabia, eu não percebi que podia ter sido mais generoso."

Yeshua, num de seus discursos falando sobre sua vinda, dizia sobre quando Ele se assentará no Seu Trono de Glória, Ele vai separar os tipos de pessoas e as pessoas não entendiam direito e lhe perguntaram: "Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.” (Mt 25:44-46)

AH! Como faz falta o pão e água na hora que deixamos de ser generosos, misericordiosos e nos privamos de fazer o bem, fingindo que não estamos vendo a necessidade de um irmão.

Me coloco a pensar num outro versículo dessa parashah, que fala das franjas do talit, em Dt 22:12 "farás franjas nos quatro cantos do manto com que te cobrires"  e em Nm 15:37-41 nos fala que essas franjas estão lá pra nos fazer lembrar dos mandamentos do Eterno. E quantos de nós acham que estão salvos, que estão melhor espiritualmente só pelo fato de rezarem bonito, de usarem seu talit diariamente, de colocarem tefilin, etc...

Isso vai de encontro com uma outra parábola do Mestre, famosíssima por sinal, e conhecida por "a parábola do bom samaritano"

Em Lc 10_25-37 fala que passou um cohen, um levi e não ajudaram ao necessitado, que havia sido assaltado, e veio um samaritano e lhe sarou as feridas, se preocupou com ele, e o ajudou. E a famosa pergunta: Quem é meu próximo?

Transformar nossa aparente santidade em atitude é o desafio. Colocar o talit, um manto de oração, é uma mitsvah e devemos fazê-lo, mas amar ao próximo também o é, e de muito maior importância.

Quanto mais superiores nos sentirmos, mais humildes devemos ser.

Cumprimentar os mais simples da Kehilah, dar atenção, sentar a ouvir seus problemas, suas angustias, tristezas, e quem sabe, estender nossa mão e dar um copo de água e um pão não garantirá nosso lugar no Olam Habah? Quem sabe por causa dessas pequenas atitudes não sejamos dignos de ouvir Ele dizer: "Vinde, benditos de meu Pai, entrai na posse de meu reino que vos está preparado desde a fundação do mundo."? (Mt 25:34)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ki Tetsê e algo que devemos nos lembrar

 
 
Dt 24:8,9 - Guarda-te da praga da lepra e tem grande cuidado de fazer conforme tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de o fazer. Lembra-te do que o SENHOR, teu Deus, fez a Miriã no caminho, quando saíste do Egito.
 
Aproveitando que estamos no mês de Elul e é tempo de reflexão e arrependimento, a parashah de Ki Tetsê nos traz um “toque do shofar”, um alerta, para termos cuidado com a praga da lepra.
 
Uma rápida busca na internet por definições de lepra, encontramos: “A lepra, também chamada de Hanseníase, é uma doença de pele que afeta os nervos causando grandes danos. Ela é transmitida pelas secreções do indivíduo contaminado pelo simples fato de falar, tossir ou espirrar.”
 
Na verdade a praga bíblia da lepra, não é propriamente a mesma doença moderna chamada Hanseníase, mas causava certamente o mesmo medo. Como o verso diz, essa bíblica era uma “PRAGA” que vinha pelo “simples falto de falar”, mas falar o quê mesmo? Lashon Hará!
É disso que estamos falando, foi isso que ocorreu com Miriã, irmã de Moshê! É disso que a Torah nos recomenda a lembrar. Então vamos recordar:
 
Lá estava Moshê, homem santo, guiando o povo na difícil caminhada pelo deserto, cheio de problemas, e de repente sua irmã se achou no direito de criticá-lo.
Que mal há nisso né? É uma “crítica construtiva”.
Miriã encontrou apoio no irmão mais velho Aharon! E lá foram os dois falar com Moisés. Engraçado que o texto bíblico vinha falando de coias que nada tinham a ver com o que aconteceu.
 
De repente aparece ela falando contra a tal mulher cuxita de Moisés. E é exatamente assim que acontece... do nada, a pessoa na mais absoluta falta do que falar, ao invés de ficar calada, abre a boca pra criticar a roupa do fulano, o cabelo do outro, a esposa que Moisés escolheu... e aí se arrebenta!
 
Como já estava falando mal mesmo, então vamos falar de uma vez, e lá estavam os dois irmãos, falando mal de Moisés: “Por acaso o Senhor falou somente por Moisés? Não falou também através de nós?” Ah, o Eterno ouviu isso!
 
O problema é que o Eterno SEMPRE ouve!
 
Moisés continuou ali, na dele, manso, o mais manso dos homens. Ele deixou rolar...
E foi Deus quem agiu, ordenando que os três saíssem à Tenda, e lá foi que Miriã e Arão viram a ira do Eterno se acender contra eles, e aí entra a tal da “praga da lepra”.
 
Miriã ficou leprosa, e Arão, muito do esperto, se arrependeu, fez teshuvah, e reconheceu que fizera um grande erro e disse: “Não ponhas sobre nós este pecado, que fizemos loucamente e com que havemos pecado.” Só que atente bem para quem ele disse isso: “Arão disse a Moisés: Ah! Senhor meu!”
 
Num instante, Moisés era alvo de críticas, no momento seguinte, virou “senhor meu”
O resultado dessa situação foi que Miriã ficou leprosa, Moshê teve que rogar ao Eterno por ela, mas no fim, ela teve que ficar sete dias envergonhada, afastada do arraial, longe do povo, para não os contaminar. Que triste!
 
Já que estamos em Elul, lembre de Miriã, não custa nada e isso fará com que tenhamos o cuidado de fazer conforme tudo que nos ensinaram os sacerdotes.
Fazer Lashon Hará, ser maledicente não compensa, além de que faz com que fiquemos com a pele feia por conta da lepra.
 
Por hoje, meditemos em alguns versículos e não nos esqueçamos de Miriã.
 
Pv 26: 20,22 - Sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda...As palavras do maldizente são como deliciosos bocados, que descem ao íntimo do ventre.
 
Pv 21:23 - O que guarda a boca e a língua guarda das angústias a sua alma.
 
Tg 3: 3-10 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. Vede também as naus que, sendo tão grandes e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno. Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus: de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
 
Não convém que isto se faça assim. Usemos a língua para o bem, uma vez que o Eterno nos tem dado a dádiva de podermos falar. Como diz o salmista: “Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proferirá o teu louvor.” (Sl 51:15)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

SHOFETIM e o Remédio contra o Medo.


Hoje não quero colocar um pensamento meu acerca da parashah de Shofetim, mas retiro aquilo que aprendi lendo um livro de comentários das parashiot, chamado "Nos caminhos da Eternidade". Espero que seja útil. (A propósito, esses livros estão à venda na CINA)
 
“O homem medroso e de coração mole, que volte para sua casa e não derreta o coração de seus irmãos como o seu coração.”
 
Antes de sairem para a guerra, um Cohen especialmente designado anunciava para as pessoas que estivessem nos seguintes status, que poderiam voltar para suas casas sem ir para a guerra:
 
1) Os que construíram suas casas, porém ainda não a inauguraram.
 
2) Aqueles que tinham plantado um vinhedo, mas ainda não haviam desfrutado dele (ainda não haviam passados os três anos necessários pela Torá para que pudessem desfrutar dele)
 
3) Quem tinha noivado e ainda não casou.
 
4) Aqueles que estivessem com medo (conforme primeiro parágrafo)
 
Nossos sábios nos dizem que os três primeiros foram incluídos neste anúncio por causa do quarto (o que estivesse com medo), pois seria vergonhoso que do meio de um grupo de soldados, após o anúncio do cohen, retirassem-se apenas aqueles que estivessem com medo. Desta forma, incluindo-se outras categorias e deixando que todos retirassem-se somente ao final do anúncio, não seriam notados os que se retiravam por medo. Portanto, notamos que era imprescindível a retirada dos que temiam a guerra, para que não se infiltrasse nas fileiras dos soldados o medo e para que não se contagiasse todo o exército (conforme a Torá explica).
 
Um dos grandes pensadores de nossa geração, o rabino Chaim Shemulevits ZS''L (ex-rosh-ieshiva de Mir, que durante a Segunda Guerra Mundial teve sua sede em Changai e hoje possui uma sede em Jerusalém e outra em Nova Iorque) nos diz que o medo somente existe em pessoas que não possuem fé e não depositam confiança em D'us. Ele vai ainda mais longe nos dizendo que a pessoa que tem medo coloca o meio que a rodeia em perigo. Sobre este assunto ele traz um comentário do comentarista do Tanach Ralbag sobre a seguinte passagem do Tanach (Melachim II, cap 6):
 
Quando o exército de Aram cercou a cidade de Dotan (uma das cidades do centro de Israel), o jovem que era servente do profeta Elisha assustou-se e perguntou ao profeta - O que faremos para nos salvar? O profeta então respondeu-lhe: "Al tiká ki rabim asher itanu measher otam" - Não tema, pois somos mais numerosos do que eles; e consta que em seguida o profeta pediu a D'us que abrisse os olhos do jovem para que ele visse de fato que eles estavam em maioria, e assim ocorreu, o jovem viu a montanha repleta de cavalos e carroças de fogo em volta do profeta. Logo em seguida, o profeta Elisha pediu ao Todo Poderoso cegar o povo de Aram e foi atendido.
 
Comenta então o rabino Chaim Shemulevits ZS''L: A priori, o primeiro milagre, quando o Todo Poderoso fez com que o jovem enxergasse a montanha repleta de cavalos e carroças, foi inútil, pois logo em seguida o exército de Aram ficou cego e de qualquer forma não venceria o exército de Elisha.
 
O comentarista Ralbag nos explica que o primeiro milagre foi necessário para acalmar o medo e fortalecer o coração do jovem que acompanhava o profeta, pois o maior perigo era justamente o medo (que é proveniente da falta de fé e de segurança no Todo Poderoso) que colocava todos em perigo. O segundo milagre só foi possivel de concretizar-se depois que o jovem acalmou-se, pois todo o tempo que ao redor do profeta houvesse alguém com medo, ele também corria perigo e não poderia ser feito o milagre por seu mérito.
 
Qual então o remédio contra o medo? Em seu livro Ale Shur vol 1, o rabino Shelomo Wolbê Shlita nos diz: "Bitachon bashem messalek pachadim"- A fé em D'us afasta todos os medos.
 
Apesar de encontrarmos em Mishlê (24:14) o seguinte versículo: "Ashrê adam mefached tamid" - Bem-aventurado aquele que sempre teme, o Talmud Berachot (Pág 60) nos explica que esta citação se refere sobre temer o esquecimento da Torá, temer que a Torá que estudamos seja esquecida, e Rashi explica no local, que este temor nos fará sempre revisar os trechos estudados para não esquecê-los.
 
Outra prova de qe o medo das circunstâncias comuns da vida e do dia a dia tem sua origem na falta de fé e de segurança no Todo Poderoso é o episódio relatado pelo Talmud sobre Hilel Hazaken, quando regressava a sua cidade. Justo quando entrava na cidade ouviu gritos, mas disse: "Tenho certeza que não são provenientes de minha casa. E sobre ele diz o versículo no Tehilim 112: "Mishemuá raá lo irá nachon libô batuach bashem"- Uma má notícia não temerá, pois seu coração deposita confiança em D'us.
 
*** que tenhamos sempre confiança na misericórdia do Eterno. *** Espero que tenham apreciado a reflexão do livro, e se o desejarem, poderão comprar na CINA, liguem (41) 3377-2422. Um abraço! 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Devarim e a síndrome de Peter Pan




Ao ler o discurso de Moshê que marca o início do livro de Devarim, ele falando à geração dos israelitas que estava prestes a entrar na terra prometida, já tendo passado 39 anos e 11 meses de caminhada no deserto, vemos que o povo que saiu do Egito sofria da Sindrome de Peter Pan.  Mas o que é isso?
A maioria das pessoas já ouviu falar do famoso personagem infantil, que era um menino que não queria crescer, e é exatamente isso que acontece a muitos até hoje. Crescem de tamanho, ganham pelos pelo corpo, barba, envelhecem fisicamente, mas permanecem como crianças da mamãe.
Dt 1:27,28 - Murmurastes nas vossas tendas e dissestes: Tem o SENHOR contra nós ódio; por isso, nos tirou da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus e destruir-nos. Para onde subiremos? Nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração...
Isso diziam no episódio dos espias.
- Ah! Deus tem ódio da gente, por isso nos tirou do Egito... será? Não foi Israel quem clamava por um libertador? Não eram eles mesmos quem queriam sair do Egito? (Êx 2:23-25)
O problema é que Israel queria sim a liberdade, mas como boas crianças, queriam que ela viesse sem que fosse necessário eles batalharem por isso. Para crescermos a gente precisa enfrentar desafios, pois são eles que nos fortalecem, nos fazem sentir que sim, somos capazes.
- Nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração, dizendo que tinham filhos de gigantes ali, ... ai que medo! Os que não querem crescer, que vivem debaixo da barra da saia da mamãe, veem gigantes em tudo. São como os meninos que vão para o primeiro dia de escola. É desafiador soltar a mão da mãe e entrar num mundo novo, cheio de “gigantes” e por isso muitas crianças choram. Os desafiadores ficam ansiosos pelo primeiro dia de aula, para explorar algo novo, crescer.

É, foi por conta dessa meninice que o Eterno os puniu e os fez perambular por 40 anos pelo deserto e apenas Josué e Calebe, os desafiadores, crescidos, foram os únicos daquela geração que entraram na terra prometida. (Dt 1: 34-38)

Seguindo no texto da parashah vemos:
Dt 1:41-43 Então, respondestes e me dissestes: Pecamos contra o SENHOR; nós subiremos e pelejaremos, segundo tudo o que nos ordenou o SENHOR, nosso Deus... Disse-me o SENHOR: Dize-lhes: Não subais, nem pelejeis, pois não estou no meio de vós, para que não sejais derrotados diante dos vossos inimigos. Assim vos falei, e não escutastes; antes, fostes rebeldes às ordens do SENHOR e, presunçosos, subistes às montanhas.
Outra característica de crianças que não querem crescer é que não sabem ouvir um NÃO. A princípio, reconheceram que pecaram e disseram que subiriam, mas aí o pai diz: agora não faça mais, não quero, e a criança teimosa vai e faz assim mesmo, e se arrebenta. Quantos adultos não são assim até hoje?
Quando é para fazer, não faz, depois inventa de querer, só que aí lhes é dito: não faça! E eles, presunçosos, vão lá e fazem e isso é certeza, vai dar errado!

Dt 1:45 - Tornastes-vos, pois, e chorastes perante o SENHOR, porém o SENHOR não vos ouviu, não inclinou os ouvidos a vós outros.
Depois de ter perdido, lá volta a criança que não quer crescer para o papai, chorando, mas o pai, querendo lhes ensinar uma boa lição, se vira e não dá ouvidos ao filho chorão.
Aqui, uma lição aos pais que não deixam seus filhos crescerem. Há muitos, muitos pais que não suportam ver o filho chorar, e nessa hora, ficam ali, bonzinhos, e NÃO DEIXAM OS FILHOS CRESCEREM. Seus filhos não podem ser magoados, não podem ser corrigidos, não podem sofrer punição. Daí lá vai o pai (ou principalmente a mãe) em defesa do bebezinho, que muitas vezes já tem barba, cabelos brancos, etc... só não tem é maturidade.

Entendam amigos, quando nascemos, existe algo chamado cordão umbilical, que é cortado na hora do parto. O bebê nasce e chora, porque saiu do seu “pequeno paraíso” que é o útero da mãe. Depois, ele precisa CRESCER.
Não se aprende a andar de bicicleta se não levar uns tombos. Tá certo, primeiro vem a bicicleta com aquelas rodinhas extras, pra ajudar a equilibrar, mas você não pode esperar que seus filhos, adultos, continuem usando a bicicleta com rodinhas extras. Ele precisa aprender a se equilibrar SOZINHO.

Além de tudo isso, há algo no princípio da criação que precisamos aprender, apesar de que deveria ser óbvio.
Gn 2:24,25 - Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.
Quando casamos, é preciso que nossos pais (de novo, principalmente as mães) permitam que saiamos de casa, e definitivamente CORTEMOS O CORDÃO UMBILICAL. Não dá pra um jovem casal se unir, com a mãe dando palpite todo dia.
Quando o texto diz que ambos estavam nus e não se envergonhavam, vá além do óbvio. Entenda que o jovem casal estava sozinho, iriam aprender juntos, iriam acertar e errar juntos, e isso os faria crescer, sem se envergonhar um do outro.

Na fé judaica, quando os nossos “bebês” atingem treze anos, e fazem seu Bar Mitsvah, o pai diz: “Bendito sejas, que me isentaste da responsabilidade deste.” Entendam pais, a partir daquele momento, já é hora de seu filho ser capaz de assumir suas próprias responsabilidades. Acredite você ou não, aquele bebezinho que saiu do seu ventre já é capaz de discernir entre o certo e o errado, então DEIXE ELE ESCOLHER SEU PRÓPRIO CAMINHO. Torça para ele acertar, torça muito, mas se ele errar, permita-lhe aprender com os erros. Só assim, ele vai adquirir maturidade. Caso contrário, porquê fazemos “Bar Mitsvah”? Porque casamos? Se for pra continuar a vida inteira chorando nos braços da mamãe, que nos protegerá de tudo, é melhor não casar, não sair de casa e continuar esperando que a mamãe traga leitinho na cama pro bebezão.


Aceite errar, não ache que Deus tem ódio de você, por Ele ter te tirado do Egito... não ache que seus irmãos fazem derreter seu coraçãozinho, quando dizem que sim, no mundo há gigantes que precisam ser enfrentados. Não queira voltar para o Egito (ou para debaixo da saia da mamãe). Aceite que eventualmente, o Eterno vai te permitir sentir o gosto amargo da derrota, e vai te dar as costas, mas isso te fará crescer. Porque o Peter Pan, o menino que nunca cresce, só existe nas historinhas da Disney.