sábado, 7 de dezembro de 2013

Vayigash e o tempo de chorar/tempo de levantar e oferecer sacrifícios.

 
Em gn 45:27 lemos: “vendo Jacó, seu pai, os carros que José enviara para levá-lo, reviveu-lhe o espírito.”
 
Jacó esteve de luto pela perda de seu filho José por 22 anos, desde que José foi vendido por seus irmãos, aos 17 anos, até que ele se tornou governador do Egito, e tendo passado os sete anos de fartura e mais dois de fome, finalmente ele teve a alegre notícia de que seu filho ainda estava vivo.
É reconhecido que Jacó decaiu de seu nível espiritual com a perda de seu filho preferido. Deixara o vigor, a alegria de viver e abandonara o costume de oferecer sacrifícios ao Eterno. De certa forma, ele apenas “sobrevivia”.
 
Ec 7:2 “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração.”
O luto traz consigo algo inevitável, a dor pela perda de alguém que nos é querido e ninguém pode mensurar a dor alheia, mas é preciso seguir adiante e viver, não apenas sobreviver.
Quando Eclesiastes nos fala de que é melhor ir onde há luto, isso não significa “vivermos de luto”, mas nos faz um convite à reflexão acerca do fim de todos os homens e que tomemos isso em consideração.
 
Que lição tiramos disso? Que é preciso viver com sabedoria. Que tomemos em consideração que depois que a vida cessa, aí sim, não temos mais nada a fazer, mas desfrutar os dias, correr atrás de nossos objetivos, lutar por aquilo que acreditamos, é obrigação dos vivos.
 
No judaísmo, o periodo de luto, chamado de Shiva, é dividido em cinco partes:
• aninut - tempo que decorre entre a morte e o sepultamento. É o período mais doloroso e intenso.
• Shivah - os primeiros sete dias, que se subdividem em duas partes, com os três primeiros dias após o funeral, como tempo para o choro e lamentação. Depois nos próximos dias da primeira semana, o enlutado já é capaz de falar de sua perda e aceitar o consolo. Isso não diminui sua dor, mas já o prepara para seguir a vida.
• Sheloshim - os primeiros trinta dias, quando o enlutado já é encorajado a sair de casa, retomando ao convivio social lentamente.
• Primeiro ano - Durante esse primeiro ano após a morte do ente querido, devemos buscar retomar nossa vida, aos poucos deixarmos de lado a dor e retomarmos a alegria de viver.
 
Jacó ficou 22 anos longe da alegria, sua vida foi deixada de lado, inclusive na Torah, quando passou a falar basicamente de José, desde que foi vendido por seus irmãos. Jacó só ressurge com a notícia de que seu filho amado estava vivo.
E o que ele fez, logo que lhe “retornou o espírito”? Ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai Isaque.
 
O salmista Davi nos diz: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Todos teremos dias tristes, e que sejam poucos, mas é preciso levantarmos do pó, e continuarmos a viver nossos dias com gratidão ao Eterno.
Quando você for a uma casa onde há luto, lembre-se de meditar que você ainda está vivo e que deve continuar a correr atrás de seus ideais, ainda é tempo de realizar seus objetivos e tornar seus sonhos em realidade.
 
É tempo de se levantar, você tem ofertas de sacrifícios de agradececimento ao Eterno para fazer. Não perca vinte e dois anos de vida se lamentando, sem o espírito; chore, pranteie pelo seu morto, mas se levante para viver. Nem Deus e nem seu ente querido gostariam que você desistisse de viver. Isso nunca foi prova de amor, mas sim, falta de sabedoria.

* Baseado em parte da explanação da parashah pelo Rosh Yehudah, em Curitiba, dia 07/12/2013.