quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Vayetze e a retribuição certa... não há espaço para espertinhos



“Recompensou-me o SENHOR conforme a minha justiça e retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos. Pelo que me retribuiu o SENHOR conforme a minha justiça, conforme a pureza de minhas mãos perante os seus olhos.” (Sl 18:20,24)

Vayetze (Gn 28:10 a Gn 32:3) traz o relato de parte da vida de Jacó, com seu casamento, o nascimento dos filhos e sua relação com o sogro Labão. Especificamente aí que entra a meditação desse ano. 
Labão era um homem muito apegado ao dinheiro, (desde quando sua irmã Rebeca se casara com Isaque, ele já olhava pro dinheiro, Gn 24:29-31) e havia enganado Jacó algumas vezes, pois procurava sempre “passar o genro para trás”.
Sim, há momentos é verdade, em que, assim como Jacó, somos passados para trás por pessoas, que se aproveitam de nossa índole, de nossa generosidade ou ingenuidade. 
O que devemos fazer nesse momento? Nada! Seguirmos em frente!

Em nosso shacharit (oração matinal) rezamos o Yigdal, e nele diz: “(D-us) Recompensa os bons segundo seus merecimentos; Pune os maus, segundo sua maldade” e é D-us quem fará justiça em toda e qualquer situação. 
Quando planejamos nos “vingar” e “passarmos o outro pra trás” nos fazemos semelhantes aos nossos malfeitores. 

Sempre cito exemplos de oportunidades práticas, de quando somos lesados por distração, como troco errado, preço de um produto mais alto no caixa do que na gôndola, postos de gasolina que colocam menos combustivel do que registram, vendem um carro com defeito e não informam, etc... mas o Eterno observa a tudo. Não sei qual a sensação positiva a de “fraudar” alguém, mas imagino a sensação de não dormir em paz quando tal coisa acontece. 

Quando fazemos um acordo, vendemos ou compramos, acertamos recisão de contrato nos empregos, etc... é muito importante que honremos com nossa palavra, ainda que da outra parte sejamos lesados. 

Foi o que aconteceu com Jacó. Dez vezes Labão o engana, muda o combinado, e em Gn 31, quando a relação já não era boa entre eles, temos: “Vós mesmas sabeis que com todo empenho tenho servido a vosso pai; mas vosso pai me tem enganado e por dez vezes me mudou o salário; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal nenhum. Se ele dizia: Os salpicados serão o teu salário, então, todos os rebanhos davam salpicados; e se dizia: Os listados serão o teu salário, então, os rebanhos todos davam listados. Assim, Deus tomou o gado de vosso pai e mo deu a mim.” (Gn 31:6-9)

Alguém pode dizer que isso era “sorte mudando de lado” ou coisa semelhante, mas nos versos seguintes, o anjo de D-us fala com Jacó: “Levanta, agora, os teus olhos e vê que todos os bodes que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez.Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde me tens feito o voto..” (vs 12,13)

Jacó contava todo esse relato às suas esposas, Raquel e Leah, e ambas ficaram ao lado do marido, pois entenderam o quanto o pai delas havia os lesado. Elas mesmas se sentiram prejudicadas pelo próprio pai. 

Esse texto de Salmos, 18:20-24, o rei Davi faz referência a Deus em sua bondade, retribuindo por sua forma de agir. Quando Saul intentava prejudicá-lo e até mesmo matá-lo, e Davi teve a oportunidade de ter o rei em suas mãos, Davi soube se conter e preservar a vida do rei. Nessa hora, Davi disse: 
“Pague, porém, o SENHOR a cada um a sua justiça e a sua lealdade; pois o SENHOR te havia entregado, hoje, nas minhas mãos, porém eu não quis estendê-las contra o ungido do SENHOR. Assim como foi a tua vida, hoje, de muita estima aos meus olhos, assim também seja a minha aos olhos do SENHOR, e ele me livre de toda tribulação. Então, Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás e, de fato, prevalecerás. Então, Davi continuou o seu caminho, e Saul voltou para o seu lugar.”  (1 Sm 25:23-25) 

Eu amo esse relato, pois é quando temos a oportunidade de retribuir todo o mal que alguém nos faz e não o fazemos é que mostramos nossa grandeza, nossa personalidade e permitimos que D-us esteja no comando de tudo. Tudo pertence a Ele, e Ele vê a todas as pessoas, inclusive aquelas que nos querem mal quando nada fazemos para prejudicá-las. 
E é esse mesmo D-us quem retribui a cada um conforme seus merecimentos... Que Ele encontre em nós méritos para recebermos da sua bondade e misericórdia. Aos que nos querem mal, que D-us também os retribua em justa medida sempre. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Chayeh Sarah - Cada um tem seu tempo



“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;” (Ec 3:1,2)

Nesse último shabat estive em Imbituba/SC e fui incumbido de explanar a parashah; até aí tudo normal, já fiz isso centenas de vezes, mas como sempre acontece, eu estava preparado, com o tema do casamenteiro na ponta da língua e aí D-us me leva a falar sobre outros temas, e começamos a falar sobre o tempo de cada pessoa. Aqui, coloco um pouco daquilo que foi a minha meditação sobre Chayeh Sarah.

Nem todos temos a habilidade de lidar com as situações da vida de forma igual. Uns conseguem reagir muito rápido e estão preparados para determinadas situações (e despreparados para outras) como a morte. Já perceberam que sempre quando morre alguém, tem sempre uma pessoa que corre atrás de tudo enquanto ou outros podem chorar? Louvo a D-us por essas pessoas, práticas, e que engolem seu sofrer e permitem que outros vivam mais intensamente seus momentos de dor. 

Chayeh Sarah relata a morte de duas pessoas especiais: Sarah e Abraão. Primeiro ela, esposa do patriarca, viveu décadas ao lado dele, e faleceu aos 127 anos. (Gn 23:1-20)
Abraão havia vivido intensamente com sua companheira, que o acompanhou desde Harã, passou pelo Egito, era estéril e por amor ao marido permitiu que ele se deitasse com Agar para que nascesse-lhe um filho, depois foi abençoada com o nascimento de Isaque, quando ela já tinha 90 anos de idade. E de repente, ele se viu sozinho, sem sua companheira. O que Abraão fez? 

Nosso patriarca, chorou a morte dela, mas foi forte e foi negociar um lugar para sepultar sua esposa, e achou Machpelah, em Hebron. Mas ele tinha um filho, Isaque, com 37 anos, e teve que seguir a vida. Isaque, o filho único pranteou a mãe, e por quanto tempo? 

A bíblia diz em Gn 24:67: “E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe, Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe.” 
Isaque tinha 40 anos quando se casou (Gn 25:20) e foi aí que ele foi consolado, três anos depois da morte de Sarah. O que isso nos ensina? Ensina que cada um reage diferente a situações da vida, e que é preciso saber respeitar as pessoas, especialmente em seus momentos de dor. 

Como pode alguém chegar e dizer algo assim: “Ah! Chega de chorar, já deu... seu marido/filho/pai/mãe... já morreu faz tanto tempo e você ainda chora? Acorda pra viver!” 
Cada pessoa leva o tempo certo pra curar suas feridas e só ela sabe a dor que sente. Ou você acha que a pessoa sofre porque gosta de chorar, gosta que os outros lhe olhem com pena, como se auto-comiseração fosse agradável...?

Não! Ninguém gosta, ninguém quer sofrer, ainda mais a perda de alguém importante. 

Alguns precisam ser fortes, engolirem o choro e fazerem o trabalho, mas isso não significa que são insensíveis, ou fortes demais... vejamos só alguns exemplos:

• Aharon: Depois da morte de seus dois filhos (não importa se fizeram certo ou errado) Moisés, seu irmão chega e diz: “ Isto é o que o SENHOR falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se.” (Lv 10:3) e aí segue: “Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, para que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o SENHOR acendeu.” (Lv 10:6)
Moisés era tio de Nadabe e Abiu, e Aharon simplesmente o pai... e não puderam lamentar, “curtir” o sofrimento, como qualquer outra pessoa. Literalmente, engoliram o choro.

• Davi: O grande rei teve que lidar com morte de filhos. Por seu filho com Bate-Seba, o rei chorava pela cura,  jejuava, clamava ao Eterno, mas quando o pequeno morreu, Davi se levantou e foi comer. Já não tinha mais o que fazer. Então, o rei se levantou, trocou de vestes, e comeu, indo depois consolar a Bate-Seba. (2 Sm 12)  
Mais tarde, outro filho do rei, Absalão, foi morto. Absalão era rebelde, se levantou contra o reinado do próprio pai, etc... e quando o rei soube de sua morte, chorou muito, a ponto de ser repreendido por Joabe. (2 Sm 18 e 19) 

Há outros relatos de períodos e reações diferentes por parte dos personagens bíblicos em situações como a morte. O importante e a lição que nos deve ficar hoje disso é que precisamos respeitar o sentimento alheio, porque tá tempo para todas as coisas debaixo do céu... tempo de chorar, de rir, de nascer, morrer e cada um sabe sua própria dor. 

Voltando à parashah, no fim, vemos que Abraão voltou a se casar e D-us lhe deu outros filhos, com sua esposa Quetura. Enfim, Abraão retomou a vida, ainda que quando Sarah faleceu ele já tivesse 137 anos de idade. Sempre é tempo de retomarmos a vida depois de um grande baque.

Um abraço, com muito respeito, a todos aqueles que hoje sofrem por ter perdido alguém a quem amavam (e ainda amam).

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Vaiera - Ló e as escolhas da vida



“Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão..” (Lc 13:24)

Neste segundo ciclo de Vaiera (Gn 19:1 a 20:18) vemos os anjos que visitaram Ló, e um assunto óbvio pode ser a atitude dos sodomitas, que queriam fazer abusar sexualmente dos visitantes, e ainda que Ló tivesse oferecido suas filhas virgens, o desejo dos homens era  o mal contra os anjos. Mas como não gosto de falar do óbvio, vamos meditar um pouco sobre as escolhas que fazemos na vida. 

No princípio da humanidade, alguns homens fizeram a opção de buscar ao Eterno, de invocá-Lo e de se aproximarem do Criador. Em Gn 4:26 a Torah fala de Enosh, filho de Shet, filho de Adam e a partir de então começou a se invocar o nome do Eterno. 
De Enosh, na quarta geração nasceu Enoch (Enoque) e este “andava com Deus”, de acordo com Gn 5:22. E de Enoque veio Metusalém, de Metusalém veio Lameque e deste nasceu Noach. Noach era um homem justo e que andava com Deus, assim como Enoch, seu bisavô. 
A partir de Noach, sabemos que veio o dilúvio e foram consumidos os homens e restou apenas a família de Noach. Seus três filhos (e esposas) passaram um ano com o pai dentro  da arca, e ao descerem Cam acabou amaldiçoado por descobrir a nudez do pai. E assim seguiu a humanidade até que chegamos a Abraão, e por meio dele, Deus fez um pacto e deu-se origem ao povo de Israel, a nação escolhida por Deus. 

Mas por qual razão falamos disso? 
- Primeiro, para entendermos que individualmente os homens podiam escolher se achegarem a Deus, desde o princípio. 
- Segundo, mesmo sendo filhos de homens justos, como Enosh ou Noach, isso não significa que os descendentes seriam tsadikim, mas tinham a livre escolha, e por isso, Cam escolheu envergonhar seu pai.
- Terceiro, com Abraão, veio o povo escolhido por Deus, e através dele e sua descendência seriam abençoados (ou amaldiçados) todas as nações da terra. 

Ok! Agora chegamos a Ló. Este era sobrinho de Abraão e escolheu por acompanhar o tio, quando Abraão tinha setenta e cinco anos de idade e saiu de Harã e do meio dos parentes para seguir ao Eterno. 
Ló fez uma boa escolha, ao seguir seu tio, mas aí eles o Eterno lhes concedeu de enriquecerem. Os pastores, funcionários deles, brigaram entre si e Abraão sugeriu que se separassem, e Ló poderia escolher o caminho para onde ir.

E Ló se deixou seduzir pelo belo campo que conduzia às campinas do Jordão, e chegava até Sodoma (Gn 13:10,11) e já se sabia que os habitantes de Sodoma eram grandes pecadores diante de Deus. (Gn 13:13)

As escolhas aparecem diante de nossos olhos a cada momento, e sempre há o mau caminho, sedutor e perigoso, e também há o caminho bom, seguro, mas há também o caminho excelente. Qual seria o caminho  melhor para Ló?
• O mau caminho, escolhido por ele, levava até Sodoma. Sim, Ló prosperaria pela boa terra, mas isso o levou a grandes problemas, ser levado cativo, perder família, e ainda ser embebedado pelas próprias filhas, que cometeram incesto.
• O bom caminho, não escolhido, seria ficar longe de Sodoma, e escolher o outro lado, evitando problemas futuros.
• O caminho excelente, seria mandar embora seus pastores briguentos e optar por ficar ao lado do tio Abraão, o homem da promessa de Deus. Quantas vezes deixamos de estar ao lado dos “homens da promessa” e vamos em busca de interesses pessoais errados e sofremos as consequências disso?

Fato é que nem sempre acertaremos nas escolhas que fazemos, mas podemos nos redimir de nossos erros, primeiramente os reconhecendo, corrigí-los e depois aprender a fazer as escolhas certas. 

Os anjos de Deus vieram até Ló para anunciarem a destruição de Sodoma, mas vemos que Ló estava sentado à porta da entrada de Sodoma (Gn 19:1). Ló podia negociar, estar perto, até conviver com os homens daquela cidade, mas quando eles planejaram o mal contra os anjos, veja o que a Torah diz: “Eles, porém, disseram: Retira-te daí. E acrescentaram: Só ele é estrangeiro, veio morar entre nós e pretende ser juiz em tudo? A ti, pois, faremos pior do que a eles. E arremessaram-se contra o homem, contra Ló, e se chegaram para arrombar a porta.” (Gn 19:9) 
Ninguém considerava Ló seu amigo de verdade; para eles, Ló continuava a ser apenas um estrangeiro. Podemos até acreditar que encontraremos amizade no mundo, mas no momento que lhes for propício, eles se voltarão contra nós, nos abandonarão e farão o mal contra nós. Vale a pena? 

Que Deus nos dê boas escolhas, boas amizades, pessoas sinceras e que busquem ao Eterno, assim como Enosh, Enoque, Noach, Abraão, e que possamos cada dia mais nos firmarmos dentre o povo de Israel, como o povo escolhido do Eterno. Que diante de situações, nossas escolhas não sejam para a beleza dos campos que levam a Sodoma, mas pela companhia dos homens que nos levam a Deus. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Lech Lecha - A beleza do conhecimento de Deus





“Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Amós 3:7)

A parashah de Lech Lecha mostra aspectos interessantes desde o chamado de Abrão, a bênção, o dízimo entregue a Melquisedeque, etc... mas neste segundo ciclo (Gn 14:1 a 15:21) me chamou a atenção o fato de o Eterno ter prometido a Abrão um filho, e que a semente de Abrão seria incontável como as estrelas do céu (Gn 15:4,5). E Abrão creu no Eterno, creu nessa promessa, e isso foi-lhe imputado por justiça. 

Acontece que na sequência da conversa entre ambos, D-us diz a Abrão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.” (Gn 15:13)
Ali, D-us revela um pouco do futuro da descendência de Abrão e daquilo que eles passariam (e passaram) durante o tempo de aflição no Egito. 

Mas e daí? Daí que desde os tempos do patriarca já se cumpria a palavra dada ao profeta Amós, de que o Eterno não faria nada sem revelar antes aos Seus profetas. 
Muita coisa a bíblia nos traz, muitas profecias e é preciso estar atento a elas, bem como àquilo que nossos líderes falam, eles são os que hoje nos trazem a revelação da profecia. 

Na semana passada tivemos em nosso escritório, estudos relevantes, com Rosh Yishai, Rosh Ezrah, chaver Sion e eu, sobre dois temas muito importantes de se entender hoje. Ao fim do estudo, lamentamos não termos gravado a discussão, pois foi muito esclarecedora. É a palavra de D-us abrindo nossas mentes para uma melhor compreensão; compreensão esta que será passada aos membros no devido momento, como tem sido até aqui. (Ninguém precisa se preocupar, não falo nada de mudança de doutrina, de besteiras como “deixar de crer em Yeshua” ou algo semelhante) 

O que me chama a atenção é o quanto de valor damos a tais lições. Quando alguém falta às reuniões no shabat, quando deixa de valorizar os estudos, quando se julga tão sabedor quanto a liderança, isso só revela o desconhecimento, despreparo e presunção de uma “falsa sabedoria”. 

Pirkê Avot 5:9 diz que sete coisas distinguem o sábio do ignorante: 
• o sábio não fala e presença de quem o ultrapasse em ciência ou em idade. 
• o sábio nunca interrompe quem fala.
• não responde com precipitação
• interroga com método e responde com precisão
• discute os assuntos na ordem em que são postos
• quando não compreende algo, confessa tal fato com franqueza
• curva-se ante a verdade
Já o ignorante, faz exatamente o contrário. E como tem gente ignorante hoje em dia. 

Enquanto a teshuvah avança no conhecimento do D-us de Israel e de nossa responsabilidade, vemos pessoas que estão ficando para trás dia-a-dia, porque não fazem questão de aprender, não querem se assentar junto aos sábios de nosso povo, se julgam cheios de conhecimento, mas ao abrirem os lábios revelam ignorância absoluta, mas ainda assim querem discutir e argumentar (ainda que não tenham argumentos com um mínimo de consistência) 

É  preciso de nossa parte sempre termos humildade, irmos de encontro às palavras ditas por nossos sábios, pois são eles quem nos trazem a “revelação divina” e cumprirmos o que diz o texto do Pirkê Avot: “não falar na presença de quem tem mais conhecimento e idade.” Porque quem fica calado, aprende! 
Quem se recusa a ficar num serviço do shabat porque o “pregador já está velho e repetitivo” ou “porque não tem mais nada para aprender com tal pregador” age com ignorância e desrespeito e além de tudo já está transgredindo o shabat, pois deixa de santificar o dia apenas porque não gosta desse ou daquele pregador e ignora o fato de que se formos humildes podemos aprender com todos. 

Vale a pena estar na Kehilah a cada shabat, vale a pena ouvir as prédicas (ainda que as julguemos repetitivas) e vale a pena respeitar os líderes de nossa comunidade, porque com tais atitudes iremos compreender os desígnios divinos para nossa vida, e isso nos acrescentará em sabedoria. 

Caso contrário, ao abrirmos nossos lábios, teremos palavras tão sabias quanto às do cidadão do video acima. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Noach e a beleza do arco-íris



“O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra” (Gn 9:16)

A visão de um arco-íris que se forma no céu, logo após uma chuva é algo que fascina a praticamente todas as pessoas, não apenas por sua rara beleza, mas também por seus diversos simbolismos e alegorias a ele atribuídos. 
O arco-íris já foi simbolo da paz, hoje é um símbolo “adotado” pelo movimento gay, aliado a coisas como a diversidade; ele também é parte de uma antiga estorinha infantil, provavelmente irlandesa, que quem encontrar seu final alcançará um pote de ouro; também há os físicos, que dizem que o arco-iris é uma ilusão de ótica, causada pela dispersão da luz do sol que em contato com as gotículas de chuva na atmosfera causa esse efeito, etc...  para mim, particularmente, o arco-íris é um símbolo da generosidade divina. 

O ser humano tem o péssimo costume de tentar estudar e entender os fenômenos da natureza, de certa forma, pra descredenciar ao Eterno. Por quê é tão difícil simplesmente aceitar que foi HaShem quem criou o arco-íris como uma forma de Ele e nós vermos a Sua promessa e o pacto com Noé, feito há cinco mil anos atrás? 

Mas de onde vem o arco-íris? Primeiro, e principalmente, da vontade do Eterno e segundo, vamos lembrar a história:
O homem, a cada nova geração, tornava-se mais egoísta e distanciava-se da vontade divina a cada dia, e quando chegou ao limite, com a maldade se multiplicando, isso fez com que o Eterno decidisse por destruir aquela geração toda, mas tinha Noé, o justo. 
Não adianta, sempre vai haver algum justo pra fazer o que é certo. E Noé foi o responsável, escolhido por Deus, para recomeçar a povoar o planeta e foi aí que o Eterno apresentou a ele (e a nós). Esse mesmo Noé teve a honra de ser o primeiro a ver o arco-íris, muito antes da bandeira LGBT, muito antes do pote de ouro, e o recebeu com a simplicidade daqueles que acreditam que o arco era apenas e tão somente um sinal da misericórdia divina. 

Vivemos reclamando das dificuldades, do mundo perverso em que vivemos, e o noticiário desnuda a cada dia a realidade brutal de assassinatos, golpes, drogas, zombaria, assaltos, mas a verdade é que a bondade do Eterno continua se relevando a cada novo dia diante de nossos olhos. São os nossos olhos que estão mal treinados, e que atentam para o que é errado e não para o que é correto. Precisamos mudar o foco...

O profeta Isaías disse: “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça. Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos, de iniqüidade; os vossos lábios falam mentiras, e a vossa língua profere maldade. Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniqüidade” (Is 59:1-4)

Talvez seja hora de percebermos que é tempo de Tikkun Olam (restauração o mundo), tempo de estendermos a mão ao próximo, de reconheermos nossos erros e encontrarmos diante de nós a mão do Senhor estendida para nos salvar. Deixar de lado os sentimentos negativos, as tentações, a ira, a inveja, o ódio e compreendermos que são os nossos pecados (e não os pecados alheios)  que nos afastam do Criador, assim como nos dias do profeta. 

Se voltarmos nossos olhos para D-us, seremos capazes de percebermos toda a beleza do arco-íris, algo que vai além de um caleidoscópio colorido; seremos capazes de ver a bondade do Criador sendo revelada diante de nossos olhos. 

Que D-us, em sua infinita bondade, nos permita de abrirmos nossos olhos e vermos um belo arco se formando, como um sinal de misericórdia sobre nossas vidas, e como prova de que Ele, o sagrado, não vai nos destruir, mas tornar nosso mundo e nossa vida cheia de cores e felicidade. Vá além do que seus olhos podem enxergar; enxergue com o coração e encontrarás a beleza real do arco de D-us.

*** Para este segundo ciclo de estudos da Torah, a parashah de Noach compreende os textos de Gn 8:15 a 10:32.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Bereshit e as lições atuais de Caim e Abel


“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.” (1 Jo 4:20,21)

Sempre ouço palestras de um rabino que diz: “tudo que acontece está de alguma forma relacionado ou relatado no livro de Bereshit” e é a mais absoluta verdade em muitos aspectos. Hoje reiniciamos o ciclo da Torah (para nós, que seguimos o ciclo trienal, iniciamos o segundo ciclo) e nessa primeira parashah temos o relato da criação da mulher, o pecado de terem comido “da maçã” e a história de Caim e Abel. 

Olhando o texto da Torah em Gn 4:9 temos: “Vayomer Adonay el-Kayin ey Hevel achicha vayomer lo yadati hashomer achi anochi”, ou seja: “Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?”

É difícil de acreditar que num mundo tão pequeno, resumido a quatro pessoas, uma delas ainda tenha a capacidade de assassinar a outro por ciúmes, inveja; é ainda mais chocante se pensarmos que o assassino era irmão mais velho do assassinado. Tem coisas que parecem só serem concebíveis em novelas, mas infelizmente essa é uma das coisas que acontecem na vida real. 

Caim traz sua oferta voluntária a D-us (se observarmos o texto veremos que o Eterno não pediu essa oferta) e logo depois foi a vez de Abel, que trouxe também sua oferta, tiranda dentre os primogênitos de suas ovelhas. Acontece que o Eterno se agradou da oferta de Abel e não da de seu irmão. 
Pronto! foi o que bastou para Caim se irar a tal ponto de matar seu irmão. 

O sábio diz: “Não te apresses em irar-te, porque a ira se abriga no íntimo dos insensatos.” (Ec 7:9)
Não temos a necessidade de estar em evidência, de sermos os melhores, os mais admirados, que dão as melhores ofertas, ou qualquer coisa que nos promova. Isso não tem valor algum diante de D-us. Quem tem esse sentimento e busca se auto-promover age como um tolo, sua oferta acaba não sendo recebida com agrado pelo Eterno e pior, terá despertado dentro de si o mesmo sentimento de Caim, o ódio gratuito. 

É nosso dever amar ao próximo, isso foi dito por Moshê, por Yeshua, pelos apóstolos e por todos os pregadores atuais; o texto da carta de João é bem claro: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.” (1 Jo 4:20,21)

Não se deixe levar pelo espírito de Caim, e quando o Eterno te perguntar, onde está teu irmão, não caia no pecado, no erro de responder: “Não sei, por acaso eu sou guardador de meu irmão?”

Todos somos responsáveis uns pelos outros. Vivemos em uma sociedade de 8 bilhões de pessoas, mas nossa congregação, nossa comunidade, nossa família se resume a poucas pessoas. Se não formos capazes de amar nossos irmãos, de cuidarmos deles, estaremos os matando, da mesma forma que Caim matou Abel. 

No mesmo contexto, em Gênesis 4:8 temos: “E disse Caim a seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, levantou-se Caim contra Abel, seu irmão e o matou.”

Algumas versões em português trazem a frase: “Disse Caim a seu irmão Abel: vamos ao campo...” mas na verdade, essa frase final (vamos ao campo) não existe nos originais. O que isso significa? Significa que a Torah não relata o que Caim disse a Abel... mas por quê? Porque isso não importa e nada do que Caim dissesse a Abel justificaria o fato de alguém matar a seu próximo. Essa é uma lição fascinante da Torah para nossa vida diária. Nada justifica maltratarmos ao nosso irmão. Não existe justificativa para alguém que por ciúmes, inveja ou movido por qualquer outro negativo, queira matar seu irmão.

Somos chamados para amar ao próximo, não apenas para amar a um e odiar a outro. Vejamos as palavras de Yeshua:
“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5:46-48) 

Não por acaso, na sequência dessas palavras, Ele fala das ofertas (ou tsedaka) ou esmolas... que não devemos fazer com o objetivo de sermos vistos pelos demais, tocando trombetas, pois só os hipócritas fazem isso. Exatamente como Caim. 

Para encerrar, sobre isso, o Talmude, no tratado de Pirke Avot, capítulo 5:17 diz: “Há quatro categorias de pessoas no que diz respeito ao exercício da caridade. Há os que dão e não querem que os outros dêem; são os invejosos. Há os que fazem com que as outras pessoas dêem, mas não querem dar; são as pessoas avarentas. Há os que dão e promovem que os outros dêem também, são os homens devotos. Finalmente, há ainda os que não dão e não querem que os outros dêem, são os ímpios. 

Que tipo de pessoas somos nós? 
Desejo a todos um feliz 5775 e que nesse ano, encontremos espaço em nosso coração para amar ao próximo e verdadeiramente termos cuidado uns dos outros, pois quem ama ao próximo cumpre a Lei. 

sábado, 26 de abril de 2014

Parashah Kedoshim e a Justiça

A parashah de Kedoshim é excelente para quem deseja se aprofundar sobre cada um dos mandamentos ali apresentados, no objetivo de buscarmos a santidade. 
Desde honrar os pais, até a guarda do shabat, desde não mentir e usar de falsidade com as pessoas até não comer nada com sangue são muitos as lições literais, morais e espirituais que aperfeiçoam nosso caráter na direção da santidade que o Eterno requer de cada um. Mas basicamente, todos os versículos tratam de justiça; obedecer aos pais é justo, guardar o shabat é justo, mas não é justo ser falso com um irmão, e não é justo deixar de pagar um funcionario, como consta do verso de Lv 19:13: “Não oprimam nem roubem o seu próximo. Não retenham até a manhã do dia seguinte o pagamento de um diarista.” 

Eu mesmo já presenciei isso ocorrer muitas vezes. Conheço muitos pedreiros que trabalharam, construiram casas, reformaram, e ao fim, não recebiam o combinado. Há anos atrás trabalhei para uma empresa, que até certo tempo pagava os salarios corretamente, a cada semana, e depois de um certo periodo, começou a atrasar, e aos poucos os funcionarios foram saindo, todos sem receber os atrasados... foi um, outro e outro, até que eu fiquei por ultimo, na esperança de receber; eu havia acabado de comprar meu primeiro carro, e já não tinha como pagar parcelas, contas cotidianas, etc... Lembro-me, como se fosse hoje, da frustração a cada sexta-feira, por de novo não receber, e o que eu diria à minha esposa. 
Assim como é justo o trabalhador ser honesto e não “enrolar” o patrão, este deve manter os salários dos funcionários em dia. É uma crueldade muito grande, pois isso também é “usar de falsidade, enganar, mentir” e se aproveitar da dedicação de alguém em benefício próprio. E independente de a empresa passar por situação financeira boa ou ruim, o patrão sempre tem melhores condições financeiras do que o funcionário. 
Talvez por isso a justiça trabalhista brasileira sempre acaba dando ganho de causa aos empregados, como parte mais fraca (erroneamente) em detrimento da verdadeira justiça. 
Interessante que isso também consta na parashah de Kedoshim. A justiça. Na Torah temos: “Não farás injustiça no juízo, nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo.” (Lv 19:15) Noutra versão fala “Não verás face no juízo.” E não há como negar; é difícil ser justo no juízo. 

Tomemos como exemplo o julgamento do chamado “mensalão”  onde praticamente todos foram “condenados” mas nada de prisão. Um deu desculpa que era doente, outro arrumou emprego, todos tiveram direito a novos julgamentos, e foram amenizados, para revolta do povo, e desapontamento momentâneo (afinal, mês que vem tem copa do mundo, e todo mundo já terá esquecido) É inegável que “se conheceram faces no juízo”. Primeiro porque um pobre nunca chega a ser julgado pelo Supremo; na primeira instância já é condenado e pronto. Segundo que, quem colocou os juízes lá em cima foram os próprios governantes. 
O julgamento errado acontece em praticamente todos os níveis e ambientes. Há um velho ditado que diz: “Aos amigos tudo; aos demais, o rigor da lei.” Essa é a realidade. Ser amigo de gente influente é sempre um benefício com que podemos contar. 
Fico a imaginar como podem dormir em paz pessoas que julgam dessa forma. O fato de algo ser “permitido de acordo com a lei” não significa que isso seja moral. 

A justiça é tão difícil que nessa mesma parashah ela volta a descrever: “Não cometerás injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida.” (Lv 19:35)  Condenar um culpado é uma coisa; a medida usada na condenação, a vara (o castigo) é outra coisa bem diferente.
Quem pode dizer que condenou por um tempo justo a outro? 
Imaginemos uma situação hipotética onde duas pessoas tenham cometido separadamente o mesmo erro (bem comum) de  lashon hara, maledicência. Diante de um julgamento, ambos são considerados culpados. 
Hipoteticamente, foi feita justiça. Mas aí, na medida a coisa muda. Um é “inimigo” do juiz; o outro é filho do juiz. Aí, por conhecer bem o filho, o juiz pode argumentar que seu filho foi forçado a falar contra a pessoa, que ela é de fato um mau caráter, etc... e seu filho errou, mas um mês de disciplina já é suficiente. O outro, causou grande dano à pessoa, vítima da maledicência, e recebe uma punição de um ano. O julgamento foi certamente injusto. Um talvez por ser rigoroso de menos, e a pessoa não aprendeu a lição; o outro, que sofreu punição “exemplar” vai sofrer injustamente, numa medida exagerada. 

Essencialmente, vale o texto da brit chadashah que diz: “não queiram muitos de vós, vos tornardes juizes...” porque é dificil; e de repente você vai se acostumar com o fato de dormir com a consciência tranquila, mesmo tendo errado nos julgamentos. 

Sejamos justos com todos ao emitir qualquer juizo; o que é errado é errado, seja cometido por A ou B, e o que é certo é certo. Que HaShem nos dê o discernimento para termos medidas justas, varas justas, balanças justas, seja com nossos filhos ou com meros desconhecidos, porque no fim, todos fomos criados pelo mesmo Criador. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Vayikrah: denunciar e se libertar



A Parashah que dá nome também ao terceiro livro da Torah não fala apenas de sacrifícios, embora esse seja o assunto principal. Sacrifícios quase sempre estão ligados ao pecado, mas fingir que não vimos nada, não sabemos de nada também é considerado pecado pela Torah.

Lv 5:1 “E quando alguma alma pecar: sob juramento, sendo testemunha de um fato por ter visto ou sabido; se não o denunciar, levará seu pecado.”
Este texto não nos ensina a sermos “dedo-duro” mas nos mostra a necessidade de apontar. Denunciar um pecado nem sempre é sinônimo de perseguição; pode ser um ato de justiça tanto para com aquele que cometeu o erro, quanto para si próprio, ao livrar a consciência desse peso.
Denunciar, falar ao juiz é o que nos cabe; limpar a consciência. O que o juiz vai fazer já não é de responsabilidade nossa, mas dele. Se o juiz é justo ou injusto (aos nossos olhos)  isso é entre ele e D-us.

Julgar a vida alheia não é tarefa fácil e o melhor de tudo é que não temos essa necessidade. Por isso, a sociedade mesma se encarrega de ter seus próprios juízes; a comunidade judaica tem seu Beit Din, tinha o sinédrio, e isso não os eximia de também cometerem erros.
Deuteronômio 17 fala do ofício dos juízes, que deveriam inquerir bem, perguntar bastante, tirar toda possibilidade de dúvida, de erro, e baseado em no mínimo duas testemunhas, emitir um julgamento. A Brit Chadashah fala do caso de Estêvão, onde foram apresentadas falsas testemunhas, mas será que elas foram bem inqueridas?
Por isso é preciso cuidado. Ao abrir a boca, já emitimos julgamento. E hoje, com facebook rapidamente emitimos julgamento, a cada postagem, a cada foto que alguém publica. Nem prestamos atenção mas logo já estamos dizendo que fulano é isso, aquilo, que está mandando indireta pra esse ou aquele; não acho que uma simples imagem de facebook seja suficiente para julgarmos o caráter de alguém.

Mas voltando ao texto de Levítico, é preciso denunciar o erro. Mas e daí?
Daí que Pirkê Avot 1:8 diz: “Não te constituas em influente de juízes; quando dois contendores estiverem perante ti considera ambos culpados; mas quando saírem da tua presença, olha-os como absolvidos, porque já foram julgados. ”

Daí que quando duas pessoas brigarem, de quem é a culpa? DE AMBOS. E devemos considerá-las assim quando elas se apresentam diante de nós, mas quando viram as costas, considemo-las como absolvidos, porque já foram julgadas.
O que isso significa? Que não devemos ficar o resto da vida marcando uma pessoa. Apontando seus erros do passado. Devemos libertá-las da culpa.

Shaul HaShaliach foi muitas vezes ofendido, ficou triste e podemos dizer que teve que corrigir pessoas, mas veja o que ele diz:
“Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos; basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja, de modo algum, devorado de demasiada tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por essa prova saber se sois obedientes em tudo.” (2 Co 2:5-9)

Se tem uma coisa que aprendi nos anos de liderança congregacional foi que, quando tinha que disciplinar, que corrigir a alguém, essa pessoa demandava de mim mais atenção ainda do que todos os demais. Atenção não era ficar “vigiando” mas “cuidando”. Era um período de aconselhamento, de cuidado, de tratar as feridas. Isso é o trabalho de um pastor.
Paulo dizia aos demais: “Não o tratem mal, mas antes, o consolem (isso não é apoiar o erro, é falar: levante-se, eu te ajudo) para que a pessoa não seja devorada pela tristeza. Confirmem para com ela o vosso amor.”

Isso é cumprir o que diz pirkê avot. “Considera culpado, mas depois de julgar, considera inocente” não fique perseguindo.

Se todos agirmos dessa forma, isso só nos trará benefícios, porque foi dito: “com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7:2)


Como diria o poeta: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás"

Apontar um erro não é sinal de que sejamos inimigos, mas ficar cobrando punição, tentando influenciar juizes para condenar alguém, isso sim é um erro. É se auto-aprisionar em sentimentos negativos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ki Tissa e as lições do meio shekel



A parashah dessa semana (Ki Tissa - Êxodo 30:11 a 34:35) fala de diversos assuntos, como o censo, a construição da pia no qual o lavatorio deveria purificar-se antes de entrar no santuario; também o óleo usado na unção dos utensilios e cohanin, e o incenso; a aliança do shabat conclui o primeiro ciclo trienal dessa parashah.
O censo foi ordenado a ser feito aqui sob a forma de doação; isso nos leva à pergunta: quanto nós valemos? Só podemos responder se soubermos nos avaliar perante o mundo, a comunidade e nossa família. Tal percepção de valor pessoal é importante, pois não valemos o que temos, mas aquilo que somos capazes de dar, compartilhar. Por isso o recenseamento foi feito através da doação, de um valor pequeno, porque não era o valor da oferta, mas a pessoa sentir que ela é igual às demais, que não deve se sentir inferior, como um peso morto em sua existência.
Qual a diferença fundamental entre o homem e os animais? Se acompanharmos uma manada de elefantes ou qualquer outro grupo de animais, perceberemos que o efeito que eles causam no mundo é mínimo. Já o homem causa grandes transformações no mundo, na sociedade. O homem foi criado com o atributo da criação, e a partir de suas experiências, ele é capaz de criar e adaptar situações na sua vida. Nossa capacidade de empreender, está ligada à capacidade de dar. Tudo que fazemos é preciso empreender.
Por exemplo, casamento: é preciso empreender uma idéia de se casar, e a partir de então se gasta energia, tempo, habilidade, conquista, investimento, etc... O propósito de Deus para o sacerdócio de Israel requeria deles uma grande dose de empreendedorismo.
Era para ser uma nação sacerdotal e precisavam investir nisso. Ex 19:3-6 - Moisés subiu ao Eterno e Deus lhe disse: se me obedecerem,... serão nação sacerdotal. 1 Pe 2:9-14 - Vós sois raça eleita, sacerdocio real, nação santa... afim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. No momento em que tomamos parte na aliança, através de Mashiach e do conhecimento da Torah, acabamos por assumir o mérito e a responsabilidade de sermos uma nação sacerdotal, afim de proclamar as virtudes do Eterno, que nos chamou das trevas para a luz.
Cada pessoa precisa entender que o dinheiro da comunidade advem das contribuições do povo, com seus dizimos e ofertas, ou seja, empreendermos nossos valores na divulgação da mensagem. O dizimo é uma forma de reconhecimento de que tudo que possuímos vem das mãos do Eterno.
Pirke avot 3:17 fala que a cerca da riqueza são os dizimos.
Não há nada mais gratificante do que perceber que alguém lhe é grato por algo que você fez. Mesmo que a pessoa não lhe agradeça, aquele que ajuda, faz tsedakah, aumenta sua própria auto-estima.
Os sentimentos ruins nos impedem de empreender em coisas boas. Sentimentos como ciúmes, inveja, prejudicam nossa auto-estima e gastamos nosso tempo preocupados e pensando em como prejudicar a alguém, quando o único prejudicado acaba sendo nós mesmos.
Na contagem, cada um trazia meio shekel, porque a pessoa deve sentir que sozinha, ela não é completa, e que para sermos um, precisamos de nosso próximo. Hoje a comunidade pode ser grande, mas a comunidade forte não é a grande em números, mas é aquela que é capaz de transformar o mundo. Os dizimos são voluntários, mas baseado na Torah, eles são compulsórios. Deus exige que a décima parte de nossas riquezas seja compartilhada com o sacerdócio. Sacerdócio não apenas se refere aos que ocupam cargos, mas ao oficio de propagar a mensagem de um povo com tal missão.
Pirke avot 5:14 fala daqueles que contribuem e do sentimento de egoísmo, daqueles que desejam tudo para si, e são considerados ímpios. Justos são aqueles que abrem mão de suas próprias riquezas em favor do próximo. Reter dízimos, ofertas e abster-se de ajudar ao próximo é uma auto-declaração de impiedade.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mishpatim e a virtude da paciência.


Na parashah de Mishpatim, começamos a ver os estatutos (tradução da palavra hebraica Mishpatim) que o Eterno deu aos filhos de Israel. Sabemos que são 613 mandamentos, relacionados a vários aspectos da vida judaica, mas nem tudo é tão simples assim como parece. Por exemplo: Moshê subiu ao monte Sinai, e de lá desceu com as tábus da lei (10 mandamentos) e com  o livro da lei (êx 24:7) e o povo começou a cumprir a Torah, como havia prometido, na famosa frase: "faremos e obedeceremos" (Êx 24:8)?
 
A verdade é que, assim como a constituição de um país leva anos para ser elaborada, e até que o povo tome conhecimento e a lei seja aplicada, não foi coisa de minutos e Moshê desceu com toda a lei ao povo israelita que perambulava pelo deserto.
 
Toda a parashah de Mishpatim é interessante, e o sábio deve aplicar-se a aprofundar no conhecimento e derivações de cada mandamento ali expressado, mas vejamos os versos finais, do Maftir:
 
Êx 24:15-18 - “ Subiu Moisés ao monte, e a nuvem cobriu o monte. E pousou a honra do Eterno sobre o monte Sinai, e cobriu-o a nuvem SEIS DIAS; e chamou a Moisés no SÉTIMO DIA, do meio da nuvem. E a aparência da glória do Eterno era um fogo consumidor sobre o cume do monte, aos olhos dos filhos de Israel. E entrou Moisés pelo meio da nuvem e subiu ao monte, e esteve Moisés no monte QUARENTA DIAS E QUARENTA NOITES.”
 
Moisés havia ido até ao Monte (antes de subi-lo) com Josué, Arão, Nadabe, Abiú e mais setenta anciãos de Israel. Daí só Moisés sobe. Uma vez lá, porque Deus não lhe apareceu de uma vez? Mas não, teve uma nuve, que ficou seis dias cobrindo o monte, e só no sétimo dia é que Moisés foi chamado. Por fim, ele ficaria ali quarenta dias seguidos, para depois descer ao povo.
 
São várias liçoes que podem ser tiradas disso tudo. Por exemplo, o povo estava lá, esperando. Será que não poderia ser mais rápido o processo? Por quê fazer um povo, homens, mulheres e crianças esperarem todo esse tempo?
 
Imagine Moshê lá no alto da montanha e vem uma nuvem e nada, fica lá, parada por uma semana. Que angústia não?
 
Isso tudo contrasta com a pressa que vivemos hoje. Acordamos e já vemos o jornal que praticamente instantaneamente mostra notícias do mundo todo; coisas que estão acontecendo naquele momento.
Daí saímos e vamos trabalhar. Quem utiliza computador, internet, deve se dar conta de que a internet fica cada vez mais veloz e entretanto, isso parece não ser suficiente.
Lembro-me que há não muitos anos atrás, a internet discada era o que havia, e todos exercitavam a paciência diante daquele barulhinho que o computador fazia ao discar.
É um enorme constraste com a velocidade de hoje em dia, em que um filme em alta definição demora menos de meia hora para ser feito o download, e ainda assim ficamos bravos pela "lentidão".  Não por acaso, desaprendemos a apreciar as coisas.
Antes almoçavamos, apreciávamos o gosto dos alimentos; hoje, engolimos algo num fast food. Antes, viamos nossos filhos nascer, curtíamos cada dia, cada fase da infância deles, havia tempo para brincadeiras; hoje, quando vemos, nossos filhos já estão adolescentes e logo saem da casa.
 
O que Moshê teve não foi meramente paciência, mas uma oportunidade de desfrutar de quarenta dias com D-us, no alto de uma montanha. E é isso que precisamos.
Se o estudo da parashah demora mais de 50 minutos, não se desespere para ir embora, desfrute do aprendizado. Se as rezas demoram, não reclame, reze!
 
A bíblia diz em Eclesiastes, num texto muito conhecido: "Há tempo para todas as coisas, todo o propósito debaixo dos céus"
 
Todos pedimos coisas a D-us em nossas preces. Todos temos ansiedade para que algo chegue a nós logo, mas que tal exercitar a paciência e a contemplação?
Israel, todo um povo no meio do deserto e Moisés lá, no alto do monte, no meio de uma nuvem... haja paciência.
 
Se aprendermos a esperar, a confiar no tempo de D-us para nossas vidas, contemplaremos as bênçãos de D-us sobre nós. Mas por outro lado, os apressados nunca atingirão a plenitude com o mérito de terem esperado pelo tempo de D-us. Paciência!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um povo livre - Yitro



Antes de entrar no texto da parashah de Yitro (Ex 18 a Ex 20), é interessante fazer uma breve contextualização histórica.
Israel havia habitado por séculos no Egito, onde, após a morte de José, e com o surgimento de uma nova liderança, um novo faraó, o povo hebreu acabou se tornando escravo e logo se habituaram com essa situação. Só que com o passar do tempo, pediam a D-us por um libertador. E o Eterno enviara a eles Moshê.
Pouco antes da libertação final, vale lembrar que “houve uma negociação” entre faraó e Moshê, que desejava que seu povo pudesse sair e livremente adorar ao Eterno.  Mas porque os israelitas precisavam ser livres para adorar? Não podiam simplesmente continuar sendo escravos  e adorar a D-us assim mesmo? O fato é que não é possível. E agora entramos no contexto.
Nessa parashah, com os dez mandamentos, os israelitas, finalmente livres, começam a receber as leis do Eterno.
Só um povo livre pode ter condição de legislar e ter sua própria constituição. A Torah só poderia ser entregue a Israel depois que eles saíssem do Egito. A principal luta do povo de Israel era e continua sendo pela liberdade, pois só através dela podemos servir ao Eterno.
Qualquer trabalho (emprego) hoje não nos isenta de cumprirmos a Torah. Por isso, hoje, também devemos buscar nossa “liberdade”.
Uma das diferenças entre gentios e judeus reside no fato de que o gentio se questiona: “eu preciso fazer isso para ser salvo? Isso é ponto de salvação?” Já os judeus estão preocupados em “como faço para agradar melhor ao Eterno?”
Ao saírem do Egito, o Eterno propiciou aos israelitas a oportunidade de servi-Lo com liberdade, sem restrições. Foi aí que se revelou o caráter de todos. Na liberdade. Nem todos estão dispostos a “servir ao Eterno” com intereza de coração.  E assim o é até aos dias de hoje.
Entre a segurança de um bom emprego, salário em dia, e o pão garantido sobre a mesa, e a liberdade para buscar seu próprio trabalho e poder servir melhor ao Eterno, mas sem garantias de salário, as pessoas preferem a segurança.  Ocorre que, quando optamos pela “liberdade”, exercemos a confiança, a fé, a dependência de D-us.
Para quem deseja se “converter” e unir-se a Israel, é preciso primeiro se desvencilhar do Egito e buscar sua liberdade, para aprender a confiar em D-us. Vejamos o exemplo de Israel: No Egito, eram escravos, mas tinham suas casas, alimentos e viviam “tranquilos”. Ao sair dali, para um lugar desconhecido, o que os esperava? Será que teriam terras, teriam alimentos? Não por acaso, logo que saíram, muitos já se queixaram pedindo por comida, com saudades dos melões, dos alhos, “onde comiam a fartar no Egito”.  É preciso coragem e ousadia para alcançar a liberdade plena.
Imagine-se como escravo no Egito. Você acha que o faraó permitiria aos milhares de escravos israelitas que tirassem o shabat para buscar ao Eterno? E que cumprissem os yamin tovim? Isso sem contar qualquer outro aspecto dos 613 mandamentos.
E por falar em 613 mandamentos, de certa forma todos eles estão contidos nos chamados 10 mandamentos (ou 10 palavras)
Vejamos um pouco dos 10 mandamentos:
- Os 3 primeiros são relativos exclusivamente ao Eterno.
- O 4º mandamento, do shabat, tem relação com D-us e os homens.
- Os outros 6 mandamentos estão vinculados ao próximo (aos homens).
Não por acaso a somatória de 3+1+6 tem como resultado 10. De qualquer forma, quer sejam os 613 mandamentos, quer sejam os 10, de forma resumida, só seremos capazes de cumpri-los se formos um povo LIVRE.
Não coloque impecilhos para obedecer à Torah. Se você deseja servir ao Eterno de coração, busque a sua liberdade; aprenda a confiar em D-us e a alcançarás.


domingo, 12 de janeiro de 2014

Beshalach e as mulheres exemplares de Israel



Estudar as parashiot traz sempre uma oportunidade de novos aprendizados e cada líder traz uma abordagem diferente. Isso é especial! E eventualmente, durante a leitura da Torah, eu me pego fazendo exercícios para a mente, tentando encontrar novas perspectivas sobre o texto da semana. Isso é bom, nos leva a uma busca mais aprofundada sobre um ou outro verso e quem sabe, um pensamento nosso, possa ajudar a aprimorar o estudo naquele shabat?!
Nessa semana, a parashah de Beshalach falava sobre a saída do Egito, e quando os israelitas finalmente saem e veem seus inimigos perecerem no mar, Moshe e o povo entoam um cântico alegre exaltando ao Eterno. Também na haftarah, depois do inimigo ter sido derrotado, Débora e Barak entoam um cântico. E deve ser assim mesmo: sempre quando vemos alguém cantando já logo nos damos conta de que a pessoa está alegre. Talvez por isso mesmo Tiago dizia: “Está alguém contente? Cante louvores.” (Tg 5:13)
Em ambas as situações, tanto com Moshê, como com Barak, a participação de algumas mulheres foi fundamental (Mirian e Jael).
Nossos sábios já diziam que as mulheres possuem em si mais espiritualidade, uma relação mais próxima com o Eterno e por isso mesmo, elas são mais emotivas, sentem a D-us de uma forma mais especial. Isso não deve jamais ser desprezado, e bem verdade, é feliz o homem que sabe valorizar essa espiritualidade da esposa, a começar pelo momento especial em que ela acende as velas do shabat, e traz a luz da santidade desse dia pra dentro de casa.
Embora Mirian não seja uma personalidade de grande destaque na Torah, ela é digna de reconhecimento, e o Eterno diz: “Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Mirian.” (Mq 6:4).
Ela foi uma das figuras fundamentais para Israel durante a história do Êxodo do Egito, e ao ser colocada pelo próprio D-us como enviada ao lado de Moshê e Arão, o Talmude afirma ser ela um dos “três bons sustentáculos” para a libertação do povo. (Taanit 9a)
Na parashah de Beshalach lemos: “Então, Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque sumamente se exaltou e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.” (Êx 15:20,21)
Mirian tinha o espírito de liderança, pois as mulheres imitaram seu ato e todas saíram atrás dela com tamboris e danças. Isso é fantástico! As mulheres israelitas talvez não imitariam a Moshê, não cantassem, mas tão logo Moshê começou a cantar, sua irmã despertou nas mulheres o desejo de sair dançando atrás dela em exaltação ao Eterno.
O cântico de Moshê, por mais belo que fosse, talvez não transmitisse, por si só, toda a alegria daquele momento, toda a gratidão ao Eterno; era preciso algo mais, e quem trouxe esse algo a mais foi Mirian, com seu exemplo contagiante.
Além disso, “chama a atenção o fato de as mulheres terem tambores. Afinal, quando o povo judeu saiu do Egito, as mulheres não tiveram tempo de preparar nem a massa do pão... Então como foi que deu tempo de levarem consigo tambores?! Convenhamos, este não é, definitivamente, um artigo de primeira necessidade! Nossos sábios explicam que este é um dos sinais da grandeza dessas mulheres: “De onde tiraram tambores e como aprenderam a dançar?” Resposta: estavam tão convecidas dos milagres que D-us faria para o povo judeu no deserto, que levaram consigo instrumentos musicais e prepararam danças para celebrar estes prodígios. As mulheres de Israel sabiam que aconteceriam milagres. Elas se preocuparam com o lado espiritual e não com o material.” (Parágrafos extraído do livro As Mulheres da Bíblia)
Homens são muito práticos, e essa praticidade eventualmente nos impede de sentirmos o espiritual que nos cerca. Por isso o Eterno nos permitiu o casamento, pois nossas esposas nos conectam com o Sagrado e compartilham conosco toda a espiritualidade que elas carregam em seus corações e atos.
Se Mirian foi uma das três pessoas que o Eterno escolheu para tirar Seu povo do Egito, o que podemos dizer de Jael?
Jael (que significa D-us está sobre ela) nos mostra a força e a sabedoria de uma mulher nos momentos de crise. Tal qual ocorrera com os israelitas, que acabaram sendo escravos no Egito, tempos mais tarde, Israel caiu nas mãos do rei de Canaã, chamado Jabim. E lá, eles pediam por um libertador.
Baraque, chamado por Débora para libertar seu povo, ficou receoso, e queria que ela fosse junto. Então Débora disse: “Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera.” (Jz 4:9)
Coube à Jael a oportunidade de matar o inimigo de seu povo, quando Sísera, já vendo seu exército como derrotado, fugiu, e os homens de Israel não o alcançaram. Então ela, com sabedoria (embora aparentemente fazendo algo errado) o convidou para entrar em sua casa, e depois de tê-lo acolhido, cobriu-o e fez com que ele dormisse para, enfim, matá-lo com uma estaca na testa. (Jz 4:17-24)
As grandes mulheres têm o poder de mudar a história com sua personalidade, e isso acontece através de atitudes excepcionais em situações sempre críticas. Jael era uma mulher virtuosa, obediente ao marido e boa dona-de-casa, mas simultamenamente era uma mulher dotada de forças descomunais; além de corajosa e destemida, características que veem à tona num momento crucial da história de Israel.
Nas grandes histórias de nosso povo, alguns homens tiveram seu nome exaltado, dignos de honrarias, mas assim como Mirian e Jael, muitas são as mulheres que merecem nosso reconhecimento por seu esforço em prol do povo.
Mulheres israelitas de verdade prezam pelo sucesso espiritual de Israel e não buscam o reconhecimento e méritos humanos. Para elas, acender as velas do shabat, trazer a luz da santidade ao interior de seu palácio, de seu lar, é tão satisfatório quanto libertar o seu próprio povo, pois uma mulher que cumpre a Torah com alegria, compartilha da Shechinah Divina com todos (de seu lar, de seu povo e de toda a humanidade)
Que os exemplos de Mirian, Débora e Jael sejam inspiradores à todas as mulheres, e que nós homens, possamos valorizar a cada dia a oportunidade que HaShem nos concede de vermos a Sua luz brilhar em nossos lares através da beleza e espiritualidade de nossas eshet chayil.