quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Melhores que Esaú?


A parashah de Vayislach (Gn 32:4 a Gn 26:43) nos traz um relato interessante sobre a vida de Jacó, e que nem sempre é abordado, porque esse assunto incomoda muita gente. A busca pelo perdão, porque sempre é legal quando as pessoas vêm até nós e pedem perdão, mas nem sempre achamos legal termos uma atitude de humildade de ir atrás e pedir perdão.
Jacó havia se separado de seu irmão havia mais de vinte anos, fugido por ter enganado a Esaú e tomado sua bênção. Por longos vinte anos ele carregou isso no coração até que finalmente decide voltar e resolver essa situação ruim.
 
Gn 32:21 (Torá) - Eis aqui teu servo Jacob, atrás de nós. Porque disse (para si): Apaziguarei sua ira com o presente que vai diante de mim, depois verei seu rosto; e talvez me aceite.
 
Dias atrás eu conversava com alguém sobre o perdão, e a pessoa me relatou algo semelhante a isso: Fulano queria dar um celular novo e chique para outra pessoa, na busca por reconciliação e pediu um conselho, e teve como resposta algo como: "Você acha que vai conseguir resoler as coisas dando presentinho, comprando a pessoa?"
 
Independente da forma usada, o importante é buscar a reconciliação, o perdão. Jacó estava errado em mandar seus servos levarem presentes a Esaú? Não! Essa foi uma maneira de aplacar a ira, a mágoa de Esaú. Quando Jacó diz: "Talvez ele me aceite" significa que ele esperava o perdão, estava ansioso por isso, mas não acreditava que apenas dar presentes resolveria a situação, afinal eram vinte anos de mágua, e seu irmão vinha com quatrocentos homens na sua direção.
 
Quando finalmente se encontraram, ambos frente a frente, Jacó teve uma atitude surpreendente (quem faria isso hoje?) Gn 33:3 nos diz: Ele passou diante deles e prostrou-se sete vezes, até chegar ao seu irmão.
Presentes podem até ajudar a diminuir a ira, quebrar o ódio, o desapontamento, mas o que transforma isso em algo realmente bom é a atitude. Jacó se prostrou diante de Esaú por sete vezes. Eventualmente, não basta você pedir desculpas e sair falando: "Ah, eu já pedi desculpas, agora se não quer desculpar, azar dele (ou dela)"
 
O grande problema hoje é que perdemos a capacidade de buscar o perdão. Quanto mais alto seu "status", mais alta também vai ficando sua capacidade em reter o perdão, em se sentir magoado e exigir que outros se humilhem perante ti, mas e você? Quando vai pedir perdão?
Jacó saiu pobre da casa de seus pais, fugido de Esaú, mas ao regressar, ele já estava relativamente rico, seu rebanho, se dividia em dois grandes bandos. Ele podia afinal chegar diante de Esaú e exibir sua riqueza, mas não, ao invés disso fez algo melhor; ele se prostrou, reconhecendo seus erros. E o que vem depois?
 
Gn 33:4 E correu Esaú a seu encontro e abraçou-o, e lançou-se a seu pescoço e beijou-o, e choraram.
Valeu a pena a atitude de Jacó? Claro que sim! Nos versos seguintes temos que até os servos, e filhos de Jacó se prostraram diante de Esaú, num claro sinal de que a boa atitude se dissemina para seus servos e filhos. Se quer ter filhos humildes, seja humilde.
 
Depois desse episódio, cada um seguiu seu rumo, mas Jacó já não mais carregava no coração a amargura de ter agido errado com seu irmão.
 
A Bíblia diz: "Há tempo para todas as coisas, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de estar calado e tempo de falar!" (Ec 3)
 
Nos escritos da Brit Chadashah, em Efésios 4:26,27 diz: "Irai-vos e não pequeis. Não se ponhao sol sobre a vossa ira. Nem deis lugar ao diabo."
Sei que às vezes, ficamos irados (e digo que ficar irado não é pecado, o pecado vem daquilo que você faz com sua ira) mas carregar ódio, inveja, mágoa durante vinte anos. Pense em Jacó. Quanto sofrimento dentro daquele pobre coração de um homem?! NÃO VALE A PENA! Tenha um coração leve, suave. Deixe-se levar por coisas boas, concentre-se nas coisas boas da vida.
 
E porque disse no título desse post "Melhores que Esaú?" Porque teve a atitude também generosa de perdoar. Que abraço gostoso deve ter sido aquele entre ele e seu irmão gêmeo!!!!
 
Por fim, encerro com duas citações; 
- A primeira vem de nossos sábios do Talmude, em Pirkê Avot, capítulo 5, mishnah 15: "Há quatro tipos de temperamento: O que é fácil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, a sua perda é compensada pelo seu ganho. O que é difícil de encolerizar-se e difícil de pacificar-se, o seu ganho é anulado pela sua perda. O que é difícil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, é o chassid (piedoso). O que é fácil de encolerizar-se e dificil de pacificar-se, é o perverso, ímpio." Não carece de explicações!
- A segunda, vem daquele a quem chamamos de Mashiach: "Quando orardes deveis dizer: perdoa-nos, assim como nós perdoamos!" (Mt 6) O mesmo disse em Mt 5:20 "se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus."
 
Portanto, paremos de pensar e tenhamos ATITUDE. Atitude para buscar o perdão e para perdoar, e assim, com os nossos corações limpos e leves, possamos seguir nossos caminhos. Porque um abraço grátis traz muitos benefícios para nossa saúde mental, física e espiritual.

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