segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Chayeh Sarah - Cada um tem seu tempo



“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;” (Ec 3:1,2)

Nesse último shabat estive em Imbituba/SC e fui incumbido de explanar a parashah; até aí tudo normal, já fiz isso centenas de vezes, mas como sempre acontece, eu estava preparado, com o tema do casamenteiro na ponta da língua e aí D-us me leva a falar sobre outros temas, e começamos a falar sobre o tempo de cada pessoa. Aqui, coloco um pouco daquilo que foi a minha meditação sobre Chayeh Sarah.

Nem todos temos a habilidade de lidar com as situações da vida de forma igual. Uns conseguem reagir muito rápido e estão preparados para determinadas situações (e despreparados para outras) como a morte. Já perceberam que sempre quando morre alguém, tem sempre uma pessoa que corre atrás de tudo enquanto ou outros podem chorar? Louvo a D-us por essas pessoas, práticas, e que engolem seu sofrer e permitem que outros vivam mais intensamente seus momentos de dor. 

Chayeh Sarah relata a morte de duas pessoas especiais: Sarah e Abraão. Primeiro ela, esposa do patriarca, viveu décadas ao lado dele, e faleceu aos 127 anos. (Gn 23:1-20)
Abraão havia vivido intensamente com sua companheira, que o acompanhou desde Harã, passou pelo Egito, era estéril e por amor ao marido permitiu que ele se deitasse com Agar para que nascesse-lhe um filho, depois foi abençoada com o nascimento de Isaque, quando ela já tinha 90 anos de idade. E de repente, ele se viu sozinho, sem sua companheira. O que Abraão fez? 

Nosso patriarca, chorou a morte dela, mas foi forte e foi negociar um lugar para sepultar sua esposa, e achou Machpelah, em Hebron. Mas ele tinha um filho, Isaque, com 37 anos, e teve que seguir a vida. Isaque, o filho único pranteou a mãe, e por quanto tempo? 

A bíblia diz em Gn 24:67: “E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe, Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe.” 
Isaque tinha 40 anos quando se casou (Gn 25:20) e foi aí que ele foi consolado, três anos depois da morte de Sarah. O que isso nos ensina? Ensina que cada um reage diferente a situações da vida, e que é preciso saber respeitar as pessoas, especialmente em seus momentos de dor. 

Como pode alguém chegar e dizer algo assim: “Ah! Chega de chorar, já deu... seu marido/filho/pai/mãe... já morreu faz tanto tempo e você ainda chora? Acorda pra viver!” 
Cada pessoa leva o tempo certo pra curar suas feridas e só ela sabe a dor que sente. Ou você acha que a pessoa sofre porque gosta de chorar, gosta que os outros lhe olhem com pena, como se auto-comiseração fosse agradável...?

Não! Ninguém gosta, ninguém quer sofrer, ainda mais a perda de alguém importante. 

Alguns precisam ser fortes, engolirem o choro e fazerem o trabalho, mas isso não significa que são insensíveis, ou fortes demais... vejamos só alguns exemplos:

• Aharon: Depois da morte de seus dois filhos (não importa se fizeram certo ou errado) Moisés, seu irmão chega e diz: “ Isto é o que o SENHOR falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão calou-se.” (Lv 10:3) e aí segue: “Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, para que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o SENHOR acendeu.” (Lv 10:6)
Moisés era tio de Nadabe e Abiu, e Aharon simplesmente o pai... e não puderam lamentar, “curtir” o sofrimento, como qualquer outra pessoa. Literalmente, engoliram o choro.

• Davi: O grande rei teve que lidar com morte de filhos. Por seu filho com Bate-Seba, o rei chorava pela cura,  jejuava, clamava ao Eterno, mas quando o pequeno morreu, Davi se levantou e foi comer. Já não tinha mais o que fazer. Então, o rei se levantou, trocou de vestes, e comeu, indo depois consolar a Bate-Seba. (2 Sm 12)  
Mais tarde, outro filho do rei, Absalão, foi morto. Absalão era rebelde, se levantou contra o reinado do próprio pai, etc... e quando o rei soube de sua morte, chorou muito, a ponto de ser repreendido por Joabe. (2 Sm 18 e 19) 

Há outros relatos de períodos e reações diferentes por parte dos personagens bíblicos em situações como a morte. O importante e a lição que nos deve ficar hoje disso é que precisamos respeitar o sentimento alheio, porque tá tempo para todas as coisas debaixo do céu... tempo de chorar, de rir, de nascer, morrer e cada um sabe sua própria dor. 

Voltando à parashah, no fim, vemos que Abraão voltou a se casar e D-us lhe deu outros filhos, com sua esposa Quetura. Enfim, Abraão retomou a vida, ainda que quando Sarah faleceu ele já tivesse 137 anos de idade. Sempre é tempo de retomarmos a vida depois de um grande baque.

Um abraço, com muito respeito, a todos aqueles que hoje sofrem por ter perdido alguém a quem amavam (e ainda amam).

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