terça-feira, 26 de novembro de 2013

Miketz: “Dos meus pecados me lembro hoje...”


Miketz é a parashah que marca a virada na vida de José, de escravo prisioneiro a governador do Egito. O texto vai de Gn 41:1 a 44:17.
Por incrível que pareça, há um verso que chama a atenção nessa parashah e que não tem nada a ver com José, mas com o copeiro-mor do faraó.
Gn 41:9 diz: “Então, falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Dos meus pecados me lembro hoje.”
Por qual razão ele disse isso? Parece totalmente fora de contexto, uma vez que nos versos anteriores temos o relato dos sonhos do faraó e o fato de ninguém ser capaz de interpretá-los diante do governante egípcio.
Apenas contextualizando, o copeiro estivera preso junto com o padeiro do faraó e José por um tempo; lá, ele e o padeiro tiveram sonhos, e José dera a interpretação, e aquilo que sonharam ocorreu em três dias. Então o copeiro saiu da prisão e se esqueceu de José.
Talvez o grande pecado do copeiro-mor tenha sido a ingratidão por José, a quem ele recorreu para o acalmá-lo e interpretar seu sonho. Mas isso não é o importante agora, até porque ele falou “dos meus PECADOS me lembro  hoje” (no plural).
 
O fato é que todos cometemos erros, pedimos ajuda, somos em algum momento amparados por algum ombro amigo, aconselhados, mas acabamos esquecendo. Só que isso volta, e também em determinada situação, o Eterno nos faz lembrar de nossos pecados. A questão é: o que fazemos com essa tal lembrança?
 
O copeiro imediatamente ao se lembrar de José, contou ao faraó que ele era um “interpretador de sonhos” e isso bastou para que a história de José na prisão mudasse.
 
Precisamos ter a consciência tranquila. Quando nos lembramos de algo errado, precisamos agir, e tentar corrigir; nunca esconder em algum lugar lá no fundo da nossa memória, pois se assim o fizermos, estaremos pelo resto da vida carregando um peso na consciência.
 
O próprio mestre Yeshua disse: “se trouxeres a tua oferta ao altar e aí  TE LEMBRARES de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta.” (Mt 5:23,24)
É preciso agir enquanto nossa consciência acusa e nossa memória é presente. Então, quando te lembrares dos teus pecados, corrige.
 
O próprio rei Davi foi por tempo atormentado pela lembrança de seus pecados. Num dos seus salmos mais famosos ele dizia: “porque eu conheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3)
 
O profeta Jeremias alertava a Israel:
“Dize-lhes mais: Assim diz o Senhor: Cairão os homens e não se tornarão a levantar? Desviar-se-ão e não voltarão? Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia contínua? RETÉM O ENGANO E NÃO QUER VOLTAR. Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto, ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um se desvia na sua carreira como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha.” (Jr 8:4-6)
 
Não retenhamos o engano, quando o Eterno nos fizer recordar de nossos pecados, façamos o correto, e o correto é corrigir os erros. Encare como uma segunda chance que Ele nos dá de buscarmos o arrependimento. Lembre-se que um simples gesto do copeiro do faraó mudou a história de José. Talvez um gesto nosso possa mudar nossa própria história e a de outras pessoas. Até porque o salmista diz:“um coração quebrantado e contrito não o rejeitarás, ó Eterno!” (Sl 51:17)
 
Aproveite sua segunda chance, boa memória pode nos livrar de continuarmos em dívida com alguém ou com o Eterno.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vayeshev e o risco dos elogios. Quem aceita que outros sejam elogiados?


A parashah de Vayeshev fala praticamente durante o capítulo todo de Gn 37 sobre o ciúmes e o ódio que os irmãos de José passaram a nutrir por ele. E é interessante quanto ciúmes e inveja fazem mal e mostram nossa personalidade e caráter.
Ao observar o teto de Gn 37:2-4 temos alguns detalhes interessantes:
- José trazia más notícias de seus irmãos ao seu pai Jacó.
Isso não fez com que seus irmãos o odiassem, ou tivessem ciúmes dele. É evidente que ninguém fica feliz quando outros expoem suas características negativas. Os irmãos de José não ficavam felizes, mas isso não abalava sua relação de irmãos.
- Israel amava mais a José do que os demais filhos.
Jacó não tinha José por seu filho favorito pelo fato de este estar sempre do lado dele, ou contar o que os irmãos faziam de errado, ou mesmo porque José era o filho "certinho". José era mais amado por ser o filho da velhice.
Era assim e o é até hoje; o caçula normalmente é o filho mais "bajulado, protegido" e eventualmente "mais amado". Isso também não fez com que os irmãos odiassem a José, mesmo porque ele era o mais amado desde que nasceu, e ele já tinha 17 anos. Não há uma citação de que José fosse odiado pelos irmãos até essa idade.
- Jacó deu uma túnica colorida para José...
Aí sim, surge o ódio dos irmãos pelo caçula. Aí surge o ciúmes. Tanto que, quando José foi alvo do ódio e acabou sendo jogado no poço, a primeira coisa que os irmãos fizeram com ele foi tirar sua bela túnica.
 
A questão não é ser mais ou menos amado, é aceitar que outro seja elogiado, outro receba o mérito, outro ganhe presentes. Isso é o que expoe nosso caráter.
 
Qual o erro de Jacó? Não sei dizer ao certo, mas o problema é o fato de que não há nenhum relato de ele presentear qualquer dos outros dez irmãos que assim como José, trabalhavam, apascentavam o rebanho, e cuidavam do que era do amado pai. Julgo que todos os filhos tinham alguma característica boa, não é possivel que você tenha só filhos ruins e um único que "o máximo".
Se vale um conselho, sugiro que todos sejamos capazes de encontrar e elogiar características positivas em todos os filhos, genros, netos, funcionários, companheiros de trabalho, etc... mas se não o formos, que sejamos capazes de elogiar "os favoritos" em particular; isso evitaria conflitos como o de José e seus irmãos.
 
Mas e o erro dos irmãos, qual foi? A falha deles está no fato de não aceitar que outro ganhasse presente, que fosse "reconhecido" publicamente. Na verdade, a mais absoluta maioria de nós tem essa característica negativa; a diferença é que conseguimos a ocultar, até que.... até que outro seja reconhecido.
 
Já passei por isso algumas vezes recentemente; sem citar nomes (pra não suscitar mais ira) elogiei algumas pessoas que nos visitavam na kehilah, em público. Foi o que bastou pra suscitar o ódio de alguns, que assim como os irmãos de José, agiram boicotando o trabalho, sugerindo que não fossem mais à kehilah, porque o rosh não reconhecia a eles.
Depois de meses, senti no coração de elogiar publicamente no meu blog uma pessoa, por seus méritos; pronto! Foi o que bastou para novamente ser alvo de críticas.
Claro, não sou estúpido de dizer que eu também não sinto ciúmes. Todos sentimos! Mas agir dessa maneira é um erro. Que tal trocarmos o ciúme pelo orgulho? Pirkê avot 4:15 fala: “que a honra do teu discípulo seja tão querida para ti como a tua própria honra.”
 
Vamos ver um outro exemplo bíblico: Saul e Davi.
1 Sm 16 traz o relato de quando Saul era atormentado por um espírito ruim. Então lhe foi sugerido que alguém tocasse uma boa música para ele se acalmar. E chegaram a Davi, de quem foi dito: “sabe tocar, é forte e valente, homem de guerra, de poucas palavras e de boa aparência.” (1 Sm 16:18)
Depois de Davi tocar ao rei, e tendo-lhe acalmado, a biblia diz que o rei o amou, e então Saul mandou dizer a Jessé: “deixa seu filho perante mim, pois achou graça aos meus olhos.” (1 Sm 16:21,22)
 
Davi era um bom servo, amado pelo rei, mas... tudo começou a mudar, e quando mudou?
1 Sm 18:7 - as mulheres cantavam e diziam umas às outras: Saul feriu os seus milhares, porém, Davi, os seus dez milhares.”
Pronto! Acabou a alegria! Davi passou de amado a odiado rapidinho.
1 Sm 18:8,9 - Saul se indignou muito, e aquela palavra pareceu mal aos seus olhos; e disse: Dez milhares deram a Davi, e a mim somente milhares; na verdade, que lhe falta, senão só o reino? Daquele dia em diante passou a olhar a Davi com maus olhos.
 
Devemos observar as pessoas: cuidado com aquelas que só querem ser elogiadas, porque no dia em que outro for elogiado, ela revela seu lado mau.
 
Cabe ressaltar em ambos os relatos, tanto de José quanto de Davi, que eles nada fizeram para atrair o ódio das pessoas. Ambos continuaram amando e respeitando, tanto que, quando José teve a oportunidade de se vingar de seus irmãos, ele os tratou bem, os acolheu, e Davi, quando teve a oportunidade de matar o rei Saul, mesmo incentivado por seus soldados, ele não ousou se levantar contra o rei, e apenas ao cortar a orla do manto de Saul, Davi já sentiu doer-lhe o coração, mas também com essa atitude conteve os seus homens de fazer o mal.
 
Sempre fui adepto de elogiar, de reconhecer o mérito das pessoas, como um incentivo para que continuem a crescer, mas hoje entendo que devemos tomar maior cuidado a fazê-lo, de preferência sozinho, em particular.
Que tenhamos o mérito de saber reconhecer que sim, todos os outros (e você também) possuem virtudes dignas de serem elogiadas e reconhecidas. Se ninguém te reconhece, isso não é problema, pois o Eterno nos vê, e Ele sabe ver nossos méritos. Que nossos méritos venha dEle e não de homens!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Melhores que Esaú?


A parashah de Vayislach (Gn 32:4 a Gn 26:43) nos traz um relato interessante sobre a vida de Jacó, e que nem sempre é abordado, porque esse assunto incomoda muita gente. A busca pelo perdão, porque sempre é legal quando as pessoas vêm até nós e pedem perdão, mas nem sempre achamos legal termos uma atitude de humildade de ir atrás e pedir perdão.
Jacó havia se separado de seu irmão havia mais de vinte anos, fugido por ter enganado a Esaú e tomado sua bênção. Por longos vinte anos ele carregou isso no coração até que finalmente decide voltar e resolver essa situação ruim.
 
Gn 32:21 (Torá) - Eis aqui teu servo Jacob, atrás de nós. Porque disse (para si): Apaziguarei sua ira com o presente que vai diante de mim, depois verei seu rosto; e talvez me aceite.
 
Dias atrás eu conversava com alguém sobre o perdão, e a pessoa me relatou algo semelhante a isso: Fulano queria dar um celular novo e chique para outra pessoa, na busca por reconciliação e pediu um conselho, e teve como resposta algo como: "Você acha que vai conseguir resoler as coisas dando presentinho, comprando a pessoa?"
 
Independente da forma usada, o importante é buscar a reconciliação, o perdão. Jacó estava errado em mandar seus servos levarem presentes a Esaú? Não! Essa foi uma maneira de aplacar a ira, a mágoa de Esaú. Quando Jacó diz: "Talvez ele me aceite" significa que ele esperava o perdão, estava ansioso por isso, mas não acreditava que apenas dar presentes resolveria a situação, afinal eram vinte anos de mágua, e seu irmão vinha com quatrocentos homens na sua direção.
 
Quando finalmente se encontraram, ambos frente a frente, Jacó teve uma atitude surpreendente (quem faria isso hoje?) Gn 33:3 nos diz: Ele passou diante deles e prostrou-se sete vezes, até chegar ao seu irmão.
Presentes podem até ajudar a diminuir a ira, quebrar o ódio, o desapontamento, mas o que transforma isso em algo realmente bom é a atitude. Jacó se prostrou diante de Esaú por sete vezes. Eventualmente, não basta você pedir desculpas e sair falando: "Ah, eu já pedi desculpas, agora se não quer desculpar, azar dele (ou dela)"
 
O grande problema hoje é que perdemos a capacidade de buscar o perdão. Quanto mais alto seu "status", mais alta também vai ficando sua capacidade em reter o perdão, em se sentir magoado e exigir que outros se humilhem perante ti, mas e você? Quando vai pedir perdão?
Jacó saiu pobre da casa de seus pais, fugido de Esaú, mas ao regressar, ele já estava relativamente rico, seu rebanho, se dividia em dois grandes bandos. Ele podia afinal chegar diante de Esaú e exibir sua riqueza, mas não, ao invés disso fez algo melhor; ele se prostrou, reconhecendo seus erros. E o que vem depois?
 
Gn 33:4 E correu Esaú a seu encontro e abraçou-o, e lançou-se a seu pescoço e beijou-o, e choraram.
Valeu a pena a atitude de Jacó? Claro que sim! Nos versos seguintes temos que até os servos, e filhos de Jacó se prostraram diante de Esaú, num claro sinal de que a boa atitude se dissemina para seus servos e filhos. Se quer ter filhos humildes, seja humilde.
 
Depois desse episódio, cada um seguiu seu rumo, mas Jacó já não mais carregava no coração a amargura de ter agido errado com seu irmão.
 
A Bíblia diz: "Há tempo para todas as coisas, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de estar calado e tempo de falar!" (Ec 3)
 
Nos escritos da Brit Chadashah, em Efésios 4:26,27 diz: "Irai-vos e não pequeis. Não se ponhao sol sobre a vossa ira. Nem deis lugar ao diabo."
Sei que às vezes, ficamos irados (e digo que ficar irado não é pecado, o pecado vem daquilo que você faz com sua ira) mas carregar ódio, inveja, mágoa durante vinte anos. Pense em Jacó. Quanto sofrimento dentro daquele pobre coração de um homem?! NÃO VALE A PENA! Tenha um coração leve, suave. Deixe-se levar por coisas boas, concentre-se nas coisas boas da vida.
 
E porque disse no título desse post "Melhores que Esaú?" Porque teve a atitude também generosa de perdoar. Que abraço gostoso deve ter sido aquele entre ele e seu irmão gêmeo!!!!
 
Por fim, encerro com duas citações; 
- A primeira vem de nossos sábios do Talmude, em Pirkê Avot, capítulo 5, mishnah 15: "Há quatro tipos de temperamento: O que é fácil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, a sua perda é compensada pelo seu ganho. O que é difícil de encolerizar-se e difícil de pacificar-se, o seu ganho é anulado pela sua perda. O que é difícil de encolerizar-se e fácil de pacificar-se, é o chassid (piedoso). O que é fácil de encolerizar-se e dificil de pacificar-se, é o perverso, ímpio." Não carece de explicações!
- A segunda, vem daquele a quem chamamos de Mashiach: "Quando orardes deveis dizer: perdoa-nos, assim como nós perdoamos!" (Mt 6) O mesmo disse em Mt 5:20 "se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus."
 
Portanto, paremos de pensar e tenhamos ATITUDE. Atitude para buscar o perdão e para perdoar, e assim, com os nossos corações limpos e leves, possamos seguir nossos caminhos. Porque um abraço grátis traz muitos benefícios para nossa saúde mental, física e espiritual.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

E viveram felizes para sempre... só em conto de fadas!


A parashah de Vayetze já deixa pra trás a história de Isaque e começa a narrar a vida de Jacó, que mais tarde teve seu nome mudado por D-us para Israel. E a história de Israel não é um conto de fadas, é uma história real. Vamos aprender um pouco com a história real, porque ela nos ensina verdades e nos traz de um mundo de ilusões para a realidade.
 
Nessa parashah (Gn 28:1 a 32:3) temos os casamentos de Jacó. E estórias de contos de fadas giram em torno de romances. Mas a história verdadeira fala de amor!
 
Antes de entrarmos no assunto, pergunte-se a si próprio: Por quê eu me casei? Valeu a pena ter casado com essa pessoa? Se eu pudesse me casar de novo hoje, eu me casaria de novo com a mesma pessoa?
Assim como na parashah da semana passada vimos sobre o fato de muitos terem filhos, mas nem sequer saberem o que os esperava e o que fazer, nessa semana aprendemos que muita gente se casa, mas nem sequer sabem o que é um casamento, vivem apenas e tão somente "um conto de fadas".

Gn 29:30 - E entrou também a Raquel e amou também a Raquel mais do que a Léia.

Estamos muito acostumados a filmes, desde pequenas, nossas meninas são estimuladas com contos de fadas, histórias de princesas. Mas a vida real é bem diferente!
Já perceberam que os contos de fada contam estórias que em geral vão até o casamento dos personagens e encerra dizendo: e foram felizes para sempre! Por quê não mostram o que vem depois? Porque o que vem depois não é “um conto de fadas”. É vida real!

Tanto homens quanto mulheres são atraídos pelo que vêem. Homens mais, mas que mulher aceitaria se casar com um homem feio? Veja o que aconteceu com Jacó:

Gn 29:17,18 - Lia tinha os olhos tenros, porém Raquel era formosa de porte e de semblante. Jacó amava a Raquel e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel.

Por quê ele escolheu Raquel? Por sua beleza, evidente! E por quê não atentou para Lia? Alguns dizem que ela era vesga, tinha olhos baços (sem brilho)... mas atente à tradução da Torah: olhos TENROS (delicado, suave, amável). Não sabemos escolher, não sabemos ver o que é melhor para nós. Vamos muito mais pela aparência das pessoas, coisas... e Jacó foi enganado por Labão, e veja o que a Torah diz:
Gn 29:30 - E entrou também a Raquel e amou também a Raquel mais do que a Léia.
Jacó amou Léia? Claro que sim! Amou mais a Raquel.

Agora vejamos um outro exemplo, o pai de Jacó, Isaque:
Gênesis 24:67 Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe.
Quando Isaque amou a Rebeca? Depois que se casou com ela. Da mesma forma que Jacó amou a Léia. O texto bíblico não diz que Isaque amou Rebeca imediatamente após se deitar com ela, nem que ele foi consolado pela morte da mãe imediatamente. Ao longo da sua vida de casado com Rebeca, ela substituiu a mãe e ele se consolou. Casamento não é apenas um dia, não é apenas relação sexual.

Voltando a Jacó, embora ele tenha amado Rebeca, notemos os versos que relatam o fim de sua história:

Gênesis 49:31 Ali, sepultaram Abraão e Sara, sua mulher; ali, sepultaram Isaque e Rebeca, sua mulher; e, ali, eu sepultei Léia.
No lugar onde estavam sepultados seus pais e avós, a esposa de Jacó que mereceu tal honra de ali ser sepultada foi Léia e não Raquel.

Há uma grande diferença entre amor e paixão. Paixão passa, a gente consegue o que quer (ou não) e logo abandona.
Pirkê Avot 5:20 diz: todo amor baseado no interesse cessa com a causa que o fez nascer; mas o amor desinteressado perdura para sempre. Qual o exemplo do amor fundado em um interesse? O de Amnon por Tamar.

Leia a história de Amnon e Tamar, em 2 Sm 13:1-17 (15) Depois, Amnom a aborreceu com grandíssimo aborrecimento, porque maior era o aborrecimento com que a aborrecia do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te e vai-te.

O amor vem com o tempo, precisa ser cultivado, caso contrário continuaremos a acreditar em contos de fadas. É preciso saber porquê queremos nos casar. E quando nos casamos, é preciso reconhecer que aquela pessoa (por quem nos apaixonamos) está ali. Envelhecemos juntos, construimos e cultivamos o relacionamento.


Como nos diz o sábio em
Eclesiastes 9:9  Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade; os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida e do teu trabalho que tu fizeste debaixo do sol.
Deixemos de lado as estorinhas de contos de fadas, e passemos a viver a história, amando a pessoa com quem nos casamos. Se seremos "felizes para sempre"? Bem, isso só depende de nós, de quanto somos capazes de cultivar esse relacionamento e transformarmos o efêmero sentimento da paixão por um verdadeiro e belo sentimento de amor, cumplicidade, comunhão e generosidade para com a pessoa com quem nos encantamos... não aquela da beleza exterior, mas aquela que tem olhos TENROS.


 
 
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Toledot e os filhos? Por quê os queremos?

A parashah de Toledot (gerações) começa em Gn 25:19 e fala do nascimento de Esaú e Jacó, e o nascimento dos filhos é algo que sempre traz, ou deveria trazer, alegria aos pais. Jovens casais imaginam como será a aparência de seu primogênito, sonham com seu crescimento, etc... mas nascimento dos filhos não é algo tão simples assim. Vejamos:
Isaque e Rebeca se casaram, e passaram vinte anos esperando por isso, pois o texto bíblico diz: "Isaque orava insistentemente ao Eterno (e Rebeca também), porque ela era estéril e finalmente, depois de vinte anos, ela engravida." (Gn 25:21) Aí você deve pensar: nossa! que alegria a de Rebeca hein?! Estava realizando um sonho. Será?
Vejamos o que nos diz o verso seguinte: “E lutaram os filhos no seu ventre e ela disse: Se é assim, porque desejei isso eu?” (Gn 25:22)
Analisando bem a situação, uma mulher que é estéril, espera vinte anos, e quando engravida, vem gêmeos, isso certamente seria o máximo da alegria, mas não para Rebeca, ela ainda com os filhos dentro do ventre já reclamava.
Na verdade isso não é muito diferente dos dias atuais. Casais sonham com filhos, mas quando eles vem, não sabem como agir. A paternidade (e maternidade) exige do casal maturidade.
Ora, Rebeca diz: “se é pra ser assim, porque eu desejei ter filhos?” Será que uma mãe não sabe que filhos brigam? Quem tem mais de um filho sabe, eles vão crescer brigando, lutando por espaço e isso é da natureza. Desde os primeiros, quando Caim matou Abel, os filhos vão conquistar seu espaço dentro de casa (da maneira correta, não como Caim) e isso os prepara para a vida fora de casa.
Também é natural que os pais reclamem, questionem, corrijam seus filhos. O que não é certo é ficarem maldizendo, amaldiçoando sua propria geração. Quando dizem coisas como: “você é um burro! você não serve para nada! Não sei porque eu fui burra de ter filhos! Filho criado, trabalho dobrado! ou coisas semelhantes a essas, os pais não se dão conta de que estão fazendo que seus filhos se sintam rejeitados.
Não, não estou dizendo com isso que os filhos devam ser bajulados, que possam fazer as coisas do jeito que bem entenderem; não é nada disso! O que precisamos aprender é que, se desejamos ter filhos, precisamos tratá-los com respeito e dignidade (sim, os pais também devem respeitar os filhos).
Quando errarem, os filhos precisam da correção, e por isso a bíblia fala em provérbios 13:24 “O que retem a vara aborrece a seu filho...” mas é preciso entender que os filhos precisam se sentir AMADOS, desejados, pelos pais. Eu como pai, tenho o dever de os corrigir, mas também tenho o dever de fazê-los se sentirem amados. Por exemplo, nas duas frases abaixo, qual é a correta e qual a errada?:
- Meu filho, eu estou decepcionado com sua atitude, esperava que você agisse de maneira diferente.
- Meu filho, você é uma decepção para mim. Eu esperava que você fosse diferente.
Embora pareçam dizer a mesma coisa, as duas tem pesos diferentes, completamente diferentes: a primeira frase demonstra que o pai está triste pelo ERRO do filho. Já a segunda, demonstra que o FILHO é uma DECEPÇÃO.
 
Queiram ter filhos, mas queiram educá-los, amá-los e não lancem sobre eles todas as suas próprias frustrações. Filhos devem ser fonte de alegria, não apenas quando nascem, mas durante toda a vida. Quantos e quantos pais pegam o bebê no colo, abraçam, beijam, demonstram carinho, mas logo que crescem um pouco, os pais já não demonstram o menor carinho pelos filhos?
 
Filhos vão brigar entre eles mesmos, vão passar por desafios nas escolas, no trabalho, no casamento, vão cometer erros sempre, pois são humanos, mas, quem disse que pais também não os cometem?
É triste demais para os filhos saberem que seus pais só conseguem ver seus defeitos, e nunca os elogiam pelos acertos. Além disso, Shaul HaShaliach nos deu este conselhos: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4) Sim, é dever dos filhos honrar os pais, mas é também necessário que nós, pais, tratemos de maneira digna os nossos filhos, não apenas criticando os erros, mas ressaltando com alegria os acertos e as vitorias por eles alcançadas, pois, caso contrário, ainda quando estiverem no ventre, nossos filhos continuarão a ouvir: "porque desejei eu isso?"