quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Parasha Vaiera e as Lições da Akedah de Itschak.



Nessa parashah temos um dos relatos mais impressionantes de fé e amor a Deus já dado, quando nosso patriarca Avraham atende ao pedido do Senhor para sacrificar seu filho Isaque. 
A aliah de hoje (Gn 22:1-8) fala disso, daquilo que é chamado em hebraico de “akedah de Itschak”. E quantas e quantas lições para nossa vida podemos aprender com essa história? Muitas, mas aprender é uma coisa, colocar em prática é outra, bem diferente. 

Gn 22:1 - Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui!
A primeira lição é: Quando o Eterno te chama, você responde? Diz, como Abraão: Eis-me aqui!
Muitas vezes as pessoas ficam esperando D-us falar (pessoalmente) com elas e não se dão conta que o Eterno está falando, através da Torah, através dos profetas, através da pregação na sinagoga... e quando o recado de Deus vai direto para elas, as pessoas só tomam para si se for “coisa boa”, mas quando é uma exortação, elas ignoram; mas... continuam esperando Deus falar com elas. 

Gn 22:2  Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei.
Ah, e Deus falou com Abraão. E aí, lhe pede o filho, o único filho, em sacrifício. Talvez aí, a gente já deixe de ser como o patriarca, pois quem teria coragem de obedecer a um pedido desses? 
O Eterno sabia que Abraão amava seu filho, por isso está escrito: “teu filho Isaque, a quem amas”. Deus sabe aquilo que para nós é importante, aquilo que amamos, e por isso mesmo, nos pede para abrir mão. E é nessas horas que pensamos: “se fosse Deus de verdade falando comigo, Ele saberia que não posso fazer isso, pois amo tal pessoa, tal coisa, tal .....” 
Não estamos dispostos a sacrificar. Sacrificar parte do salário (com dizimos e ofertas), sacrificar minha folga (perder meu dia de descanso pra fazer algo pela kehilah é um grande sacrificio) e quem nao está disposto a sacrificar, não verá o Eterno provendo o Cordeiro para o holocausto. 

Outro aspecto nesse verso é o Monte Moriah, o local da akedah, é o mesmo local onde o Eterno estava ao criar o mundo, é o mesmo local onde foi erguido o Templo, em Jerusalém, e é claro, o centro do governo de Mashiach no futuro. Por isso, D-us ouve as preces que lá são feitas. O lugar é sagrado! 
Se você deixa o Moriah fora de sua vida, se não está disposto a fazer seu sacrificio, ir até lá e buscar ao Eterno, como esperar que Ele te ouça? 

Gn 22:3  Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado.
Esse é outro verso emblemático, se você quer fazer algo para Deus, faça você mesmo, levante-se cedo, saia do seu lugar, saia da sua “zona de conforto”, rache sua própria lenha para o o holocausto, e vá para onde Deus lhe tem indicado. 
Como podemos ser obedientes ao Eterno se não estivermos dispostos a sair de nosso lugar? Isso é o que chamamos de “obediência por conveniência”; só faço se o que for me pedido já estiver na minha mente fazer e eu obtiver algum benefício com isso.
É preciso que cada um esteja disposto a preparar seu próprio holocausto. 

Gn 22:4  Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe.
A caminhada para o seu holocausto pode ser longa; a de Abraão foi de três dias. Ele avistou o lugar de longe, e é de longe mesmo que avistamos o cumprimento das mitsvot... e de longe também avistamos as promessas. Israel caminhou por quarenta anos até chegar na terra prometida. A caminhada de Abraão até sua circuncisão e o pacto com Deus foi de vinte e quatro anos. Nada na vida é fácil, nada é “logo ali”. 

Gn 22:5  Então, disse a seus servos: Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós.
De novo, tem caminhos que podemos estar acompanhados, quer de servos, quer de amigos, mas há passos, jornadas, que precisamos seguir sozinhos. Abraão, ao avistar o lugar do sacrifício, dispensou seus servos. Ele não tinha dúvida em sua cabeça, estava disposto a obedecer até o fim, e na verdade o judaísmo considera como se ele de fato tivesse sacrificado Isaque naquele altar. 
Mas o mesmo verso diz: “havendo adorado, voltaremos para junto de vós”. De alguma maneira Avraham sabia também que não ficaria sem seu filho amado. Isso se chama fé!
Quando vamos fazer algo, precisamos ter a certeza de que aquilo vai dar certo. Como é triste quando nos propomos a algo e nossos companheiros, ou nossa dúvida, nosso subconsciente nos diz: “Isso não vai dar certo!” Aí quando a coisa não dá certo mesmo, dizemos: “alguma coisa dentro de mim dizia que isso daria errado” 
Besteira! Se for pra ter dúvidas, é melhor não fazer. Se você tem dúvidas da sua fé, se tem dúvidas do Deus que serve, qual a razão de servir a Deus? Se tem dúvidas de que Yeshua seja seu Mashiach, qual a razão de crer nele? 
Exercite sua fé! Abraão tinha certeza de que tudo daria certo e por isso mesmo alcançou a bênção e viu o Eterno provendo o sacrificio para si. Quem não tem fé, não vê a provisão divina, que se mostrou na sequencia dos versos de Gn 22. Confie em Deus, exercite sua fé, saida da “zona de conforto” e sacrifique!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Vaiera e a lição do poço, o poço da cegueira!



A parashah dessa semana relata o nascimento e boa parte da vida de Itschak (a vida dele não contempla muitas parashiot, pois Isaque era um homem do bem, pacato e “não rende muitas histórias” ser assim) Mas deixando um pouco esse grande homem de lado, vamos ver a aliah de hoje, de acordo com o terceiro ano do ciclo trienal.

Gn 21:14-21 “Levantou-se, pois, Abraão de madrugada, tomou pão e um odre de água, pô-los às costas de Agar, deu-lhe o menino e a despediu. Ela saiu, andando errante pelo deserto de Berseba. Tendo-se acabado a água do odre, colocou ela o menino debaixo de um dos arbustos e, afastando-se, foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de arco; porque dizia: Assim, não verei morrer o menino; e, sentando-se em frente dele, levantou a voz e chorou.  Deus, porém, ouviu a voz do menino; e o Anjo de Deus chamou do céu a Agar e lhe disse: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está. Ergue-te, levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele um grande povo. Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, encheu de água o odre, e deu de beber ao rapaz.   Deus estava com o rapaz, que cresceu, habitou no deserto e se tornou flecheiro;  habitou no deserto de Parã, e sua mãe o casou com uma mulher da terra do Egito.”

Todos sabemos que Agar, a serva egípcia de Sara, ao engravidar, passou a desprezar sua senhora e isso também se passou com seu filho Ishmael, que, ao ver nascer Isaque, começou a zombar do irmão desde cedo e acabaram sendo expulsos da presença de Sara e Abraão. 

Pois bem, primeiro cabe ressaltar que quem age dessa maneira, menosprezando, zombando dos outros, especialmente seus irmãos (sejam eles congregacionais ou de sangue) acaba ficando sozinho. 

Sl 1:1,2  diz: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.”
Ficar junto aos escarnecedores é perder tempo com coisa inútil. 

Mas voltando ao texto da aliah, percebemos que Agar estava em desespero com seu filho adolescente. Sem água, ela não via solução e se distanciou do filho, para não vê-lo morrer. 
Mas Agar estava cega. “Cega” não literalmente, mas pelo fato de não enxergar solução para seus problemas. E quantas vezes nos encontramos assim na vida? Tomados pelo desespero, não enxergamos saída para o “buraco em que nos metemos”. 

Aí Deus aparece, abre os olhos de Agar e ela finalmente viu um poço de  água bem à sua frente. O poço estava ali? Provavelmente, porque caso contrário, a Torah declararia que o Criador teria feito um poço, mas ela afirma: “Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço”

1) Muitas vezes a solução de nossos problemas está ali, bem diante dos nossos olhos, mas no desespero, não somos capazes de refletir, de enxergar e acabamos não vendo o poço. 
2) É Deus quem abre nossos olhos. Se vivemos uma vida distante do Eterno, na hora de dificuldade, quem abrirá nossos olhos? Amigos? Outros tão cegos quanto nós mesmos? 

Lucas 6:39  E disse-lhes uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?

Por outro lado, é Ele quem abre nossos olhos, quem faz cair as escamas que nos impedem de enxergar as coisas como realmente são. Muitas vezes lemos a bíblia, mas não temos força o suficiente para confiar em suas palavras. Um salmo muito conhecido diz:

Salmos 37:5  Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele tudo fará.

Você pode encontrar a solução de seus problemas, na maioria das vezes, tendo calma para refletir sobre o caminho a ser seguido, mas se ainda assim não se sentir apto (ou mesmo se sentindo) o melhor caminho para a resolução dos dilemas da vida está em buscar o Eterno. Entregar o caminho diante dEle e permitir que Ele nos guie.

Apenas para ilustrar, uma breve lição aprendida na Brit Chadashah: “O que fazemos quando não temos tamanho o suficiente para alcançar algo que está a três metros de altura?” Pegamos uma escada, certo? E se não tiver escada, cadeira, ou algo semelhante? É preciso pensar numa solução criativa, porque nessas horas virão pessoas pra dizer: “Deixa pra lá, você não vai alcançar mesmo” Aí, meu amigo, leia a história de Zaqueu. 
Zaqueu, diante de uma dificuldade que a vida lhe impos (ser baixinho) encontrou uma maneira de ver o Messias, subindo numa árvore. Quantos diriam: que adianta eu ir? tem uma multidao esperando e eu sou pequeno, nunca vou nem vê-lo.
Algumas pessoas colocam as dificuldades acima de sua capacidade criativa, de encontrar soluçoes. (Lc 19:1-6)

A verdade é que a grande maioria das pessoas nao está preparada para lidar com os problemas que elas mesmas se causam. Se tivermos o cuidado de vivermos dentro dos preceitos do Eterno, teremos menos problemas. 
Na sequência da parashah temos Gn 22... você está preparado para ter sua fé provada? Nas dificuldades é que mostramos, provamos e nos fortalecemos na fé... 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Bereshit e os homônimos. Cada um é cada um!



Gn 5: 18  Jarede viveu cento e sessenta e dois anos e gerou a Enoque.

Ao ler essa parashah nos deparamos com uma genealogia, mostrando as gerações a partir de Adam. Se lermos atentamente já a partir do capítulo quatro, veremos que a maioria dos homens gerou filhos e filhas, mas é evidente que nem todos foram citados nominalmente (nem a quantidade de filhos).

Na quarta Aliah de acordo com o ciclo trienal (Gn 5:15-20) temos a geração de Jarede, descendente de Shet. O que a citação de genealogia pode nos ensinar? Muita coisa!

1) Todos temos pai e mãe. É bom saber de onde viemos, e reconhecer e respeitar (porque o mandamento diz que devemos honrar pai e mãe para que tenhamos longos dias)
2) Ainda que nossos pais são responsáveis por nossa criação, nem todos seguimos o caminho por eles idealizado.
3) Nesse caso especifico, a genealogia mostra que as gerações que sucederam à primeira foram tendo sua vida encurtada, à medida que se afastavam do fruto da vida, e do espírito e da presença do Senhor.
4) Nomes, muitos nomes, e nem sempre o nome que carregamos retrata aquilo que nós somos. E é aqui que quero fazer o breve comentário de hoje...

Jarede gerou a Enoque. Enoque já viveu trezentos e sessenta e cinco anos. Seu filho Matusalém foi o que viveu mais, alcançando 969 anos de vida.

De acordo com alguns dicionários de nomes, Enoque significa literalmente: “o Iniciado, dedicado, consagrado”. Está associado à hanakh “ele dedicou, ele consagrou” e hannukkah “dedicação, consagração”.

Pode-se dizer que esse Enoque cumpriu o que seu nome diz, pois a Torah declara que ele andava com Deus. A bíblia até traz uma citação diferente a seu respeito ao dizer: “E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou.” (Gn 5:24) 

Aqui cabe citar que de acordo com alguns, baseado nesse verso, Enoque não morreu, estando vivo até hoje, no céu...
O livro da Torah, editora Sefer, diz em seu comentário que ele MORREU. Já o livro Torati, na página 19, diz que ele NÃO MORREU, mas no comentário diz: “Quando uma pessoa vive andando com Deus, isto é, obedecendo a Seus Mandamentos e imitando Sua Conduta, ao educar seus filhos ele transfere conhecimentos de validade eterna, sendo lembrada por gerações e gerações, o que a torna “imortal”. 

Cabe ressaltar que Hebreus, na Brit Chadashah cita Enoque entre os “heróis da fé” ao dizer: “Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus.... Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; ...” (Hb 11:5,13) Enoque morreu! 

Mas voltando à genealogia, o tema aqui não é se ele morreu ou não, é o nome dele, de ser consagrado... nem todo mundo se dá conta de que antes dele houve um outro Enoque, filho de Caim...
Gn 4:17-18 - E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque. E a Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a Meujael, e Meujael gerou a Metusael, e Metusael gerou a Lameque.

Se observarmos bem, Enoque, filho de Caim, teve um tataraneto chamado Lameque. Esse Lameque foi o primeiro que consta ter duas esposas na Bíblia. E esse Lameque nada tem a ver com o outro Lameque, que foi o pai de Noé. (Gn 5:28,29) O pai de Noé veio da descendência de Shet. 

Embora ambos os Lameques tivessem nomes iguais, eles tiveram postura de vida diferentes. O mesmo ocorreu com os Enoques. 
É evidente que quando escolhemos o nome de nossos filhos, escolhemos nomes “positivos” (Quantas vezes você conheceu alguém chamado Caim? Mas quantos Abel existem?) Mas não basta dar um nome bonito, temos que educá-los com boa educação, chinuch, transmitir a eles bons principios. Isso garante um bom futuro? Que ele será uma boa pessoa? Não!

Seja como for, são nossos filhos que escolherão o caminho por onde irão trilhar, e da mesma forma, após a conversão, ao recebermos um novo nome, espera-se que também saibamos escolher um bom caminho e que o nosso nome nos inspire a seguir a vontade do Eterno.

Seja você um Enoque, Lameque, Yehoshua, Hannah ou Sarah, saiba que é você quem escolhe seus caminhos, e não, eles não são determinados pelo nome escolhido, mas por suas próprias escolhas durante a vida. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Bereshit e a vida de Shet ben Adam



Gn 5:6-8 - E viveu Sete cento e cinco anos e gerou a Enos. E viveu Sete, depois que gerou a Enos, oitocentos e sete anos e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Sete novecentos e doze anos; e morreu.

A segunda aliah desse ciclo trienal compreende os versos de Gn 5:6-8 e falam da vida de Shet, o filho de Adam. O que podemos aprender com a vida dele, relatada brevemente nestes três versos?

Primeiro lugar, há duas razões pelas quais o nome de Shet é citado, como descendente de Adam.
1) Em Gn 5:4 fala que Adam teve filhos e filhas, depois de ter gerado a Shet. Nossos sábios contam que só Shet foi citado porque dele veio a sequência que chegou a Avraham Avinu, portanto, de Shet vieram os filhos de Israel.
2) Em Gn 4:25 temos:”E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela teve um filho e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outra semente em lugar de Abel...”
Shet veio para “substituir” o filho Abel. 
A perda de um filho causa uma dor irreparável aos pais; cada filho é único, ele tem o dom de conquistar os pais, seja com pequenos gestos ou grandes atos; e não importa se um filho é excelente ou seja mau, todos os pais amam seus filhos. Por isso mesmo Abraão, nosso patriarca, sofreu ao dispensar Ishmael, porquanto este zombava de Isaque. Para Sarah, obviamente foi muito fácil, pois ela não era mãe de Ishmael. 
Temos uma facilidade enorme de criticar os filhos alheios, de apontar, dizer que merecem ser punidos, que deviam ser excluídos da comunidade,... mas só pais sabem a dor que isso causa. Lembremo-nos do caso do profeta Jonas, que queria que os ninivitas fossem destruidos, mas teve misericórdia da aboboreira. Isso explica como estamos distantes do atributo divino da misericórdia, da capacidade de nos compadecermos e de nos colocarmos no lugar dos outros. 

Enfim, Shet veio para ocupar o espaço deixado pela dor da perda de Abel. Ele nunca seria capaz de ser como Abel, mas ele podia preencher a lacuna, o vazio no coração dos pais. 
Nós, ao casarmos, devemos ter em mente a intenção de gerar FILHOS. Quem tem um único filho, corre o risco de, D-us nos livre, mais tarde ver o filho falecer e não ter mais condições de gerar um novo filho pra amenizar o vazio. Pensem nisso!

Abel foi aquele que apresentou uma oferta agradável diante do Eterno (e por isso foi morto pelo irmão Caim) e Shet teve a dificil missão de estar “no lugar” de Abel. Shet gerou a Enosh, e a Torah diz: “A Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a invocar o nome do SENHOR.”

Em Enosh, o neto de Adam, começou-se a buscar ao Eterno, a invocar o nome dEle. Pode-se dizer que a “religião, a fé” começou com Enosh, o descendente daquele que ocupou o espaço deixado pelo primeiro homem a agradar ao Eterno com sua oferenda.

Quando nascemos, fomos frutos de um sonho de nossos pais, que, invariavelmente, amam os filhos desde o ventre, fazem planos, sonham com um filho bom, brilhante, cheio de boas obras. Não consigo imaginar que possa haver pais que não desejem boas coisas e o bem ao filho e que não façam planos e sonhem com isso.

Adam gerou Shet, quando tinha 130 anos e viveu mais 800 anos depois disso. Shet gerou a Enosh, quando tinha 105 anos, então isso significa que Adam viu Enosh por 695 anos, e pôde ver seu neto invocando o nome do Eterno. E a história positiva (e negativa) seguindo...

Que esse breve relato da vida de Shet nos sirva de exemplo e aprendizado para que sejamos capazes de criar nossos filhos para o bem, e que eles estejam entre aqueles que “invocam o nome do Eterno.”

Shavuah Tov!

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Bereshit e a semelhança com o Criador



Gn 5:1 - Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez;

Estamos reiniciando o ciclo de estudos da Torah, e após os vários dias festivos, é sempre bom o recomeço e nos inspiramos e renovamos, acreditando que esse ano será melhor e que aprenderemos mais e mais da Torah e da vontade do Eterno. 
Para nossa comunidade, esse é o início do terceiro ciclo da Torah, então, a porção de Bereshit compreende o texto de Gn 5:1 a 6:8. Como temos incentivado, procure nesse ano, estudar, ler a cada aliah em sua porção diária (hoje, compreendendo Gn 5:1 a Gn 5:5, apenas cinco versos)

O primeiro verso desse ciclo nos lembra que o Eterno criou o homem à semelhança de D-us. Como assim?
O primeiro homem, Adam, era semelhante ao Criador em suas características, seu caráter, sua personalidade, não em sua forma física. 
Se crermos que o Eterno é como nós, com braços, pernas, orelhas, nariz, estaremos indo contra o terceiro princípio da fé judaica, que diz: “Ani maamin beemuna shelema, shehaborê yitbarach shemo êno guf, velo iassigúhu massiguê, veên lo shum dim’ion kelal.” ou seja: “Eu creio, com fé completa, que o Criador, bendito seja Seu nome, não é corpo e não se pode assemelhar à matéria. E Ele não tem nenhuma comparação com qualquer coisa.” (Sidur, pagina 120)

Alguém pode perguntar, como ficam aqueles versos que falam que o Eterno tem braços, mãos (Eis que a mão do Senhor não está encolhida, nem surdo o seu ouvido...) nariz, olhos... etc...?  D-us, em Sua infinita sabedoria, nos propicia na Bíblia formas de entendermos a vida, e o uso de termos como as partes do nosso corpo nos dá a oportunidade de compreendermos um pouco mais acerca daquilo que Ele quer, da relação que D-us quer que construamos com Ele. 

Há várias interpretações rabínicas a respeito de que semelhanças o homem tinha com o Criador; alguns colocam o homem como semelhante na questão espiritual, outros no caráter, outros na capacidade de pensar, no domínio sobre a terra e os animais, no principio, assim como o Criador. 
Eu prefiro sempre o homem semelhante ao Criador no caráter, na capacidade de ser misericordioso, de pensar, perdoar, ajudar... tanto que quando alguém tem um gesto de generosidade, as pessoas logo atribuem isso dizendo que tal gesto “é divino” “só pode ser de Deus” ou algo semelhante.

Como estamos iniciando o ano, é tempo de renovar nossas esperanças de que o homem reencontre dentro de sí o caráter divino, essa semelhança com o Criador. Eu espero por isso, anseio por isso, e se realmente revelarmos dentro de cada um de nós esse caráter divino, seremos capazes de fazer o tão falado “Tikkun Olam”  a restauração do mundo, através do Mashiach Yeshua, que vive dentro de cada um de nós. 

Para concluir, hoje, enquanto saí do escritório para vir à sinagoga, minha carteira caiu de meu bolso e não percebi. De repente, meu celular tocou e era uma senhora dizendo que havia encontrado minha carteira na rua, próximo à CINA, e ela gostaria de me devolver. Prontamente fui até a casa dela e ela me entregou; eu tinha uns trocados e resolvi dar à ela vinte reais, como gratidão, e apesar de eu insistir, ela e o marido rejeitaram e disseram: “não fizemos nada demais, isso era nossa obrigação”. Agradeci e voltei pra sinagoga com as esperanças renovadas de que ainda há pessoas de bem, pessoas que, mesmo entre os gentios, mostram os traços de caráter divino dentro de si, ainda restando um pouquinho do Adam dentro delas, um pouquinho de semelhança com o Criador. 

Shavuah tov e bom estudo de parashah, bom ciclo, bom reencontro com o Sagrado nesse ano de 5776.