quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Chayeh Sarah, casamento, solidão e casamento





A parashah é chamada de Chayeh Sarah, “a vida de Sarah” e relata basicamente o que acontece após a morte da matriarca Sarah. Não diz nada sobre a vida dela, sobre como ela era, o que ela fez, mas apenas fala da sua morte.

Sarah morreu em Hebrom e lá foi sepultada por seu esposo Avraham. Posteriormente, outros de nossos patriarcas e matriarcas lá foram sepultados também. 

Com sua morte, o filho Isaque (já perto de seus quarenta anos) ficou sozinho e então Avraham, nosso patriarca, enviou seu servo Eliezer para buscar uma esposa para Isaque. 

O capítulo 24 fala exclusivamente do casamento de Isaque, e conclui com o verso que diz que: 
“Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe, Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe.”

Isso mostra o quanto o papel da esposa, como “substituta” da mãe é importante. Rebeca foi capaz de trazer o consolo que Isaque precisava, ocupando carinhosamente o espaço deixado pela morte de Sarah no coração de Isaque.

Agora sim, podemos entrar na aliah de hoje (Gn 25:1-6)
Gn 25:1 diz: “Desposou Abraão outra mulher; chamava-se Quetura.” 
Rashi, famoso sábio intérprete da Torah, que viveu cerca de 900 anos atrás, dizia que Quetura era a mesma serva Agar, e que o nome Quetura vem de “Ketoret” que significa incenso, pois suas obras eram tão boas e agradáveis quanto incenso. 
Independente do fato de ser a mesma Agar ou não, em 1 Cr 1:32, fala de Quetura como uma das concubinas de Avraham, mas podemos ver que, enquanto Sarah estava viva, não é citado o fato de Avraham ter concubinas, e ela viveu com ele até que ele tivesse seus 137 anos de idade. 
Em Gn 25:7 diz que Avraham viveu até os 175 anos, portanto, desde a morte de Sarah, nosso patriarca viveu mais 38 anos. 

De vez em quando, nas rodas de bate-papo, discute-se que se a esposa morrer, o marido deve se casar de novo ou não e vice-versa. E aí? Sim ou não?

Acredito que essa seja uma questão mais de cunho pessoal,  de necessidades individuais e não de se podemos ou não. Para quem está de fora, é sempre muito fácil emitir julgamentos. 
Muitos dizem: “Ah! o marido mal faleceu e a mulher já está arrumando outro casamento; isso é errado!” E qual deve ser o período que a pessoa deve esperar? 

Bom seria se o casal morresse junto, em ditosa velhice, mas sabemos que a realidade é outra. Se Avraham não se casasse, ele teria que viver 38 anos sozinho; no entanto, ele que foi um bom marido para Sarah, diante da fatalidade da morte da esposa, já com seus 127 anos, tratou de resolver a vida do filho, casando-o com Rebeca, e depois cuidou de si mesmo, casando-se novamente e tendo outros seis filhos com Quetura.  

Isso mostra que Abraão era um homem cheio de vida, e teve a satisfação de continuar a gerar filhos, ainda em sua velhice.   E esses filhos jamais ficaram desamparados, pois receberam atenção e presentes do patriarca; por outro lado, Isaque foi o filho que recebeu como herança aquilo que o pai possuía (Gn 25:5)  

Assim como Avraham, a bíblia traz uma série de outros personagens que tiveram a chance de um novo casamento, de seguirem a vida. 
Rute, por exemplo, com a morte do marido, foi orientada por Naomi, sua sogra, a procurar voltar para Moabe e reconstruir a vida com seu povo; no entanto, ela foi com Noemi e acabou se casando pela segunda vez, com Boaz. Da descendência dela veio o Rei David e o Mashiach de Israel. Se fosse errado, Mashiach não viria de Rute.
Na Brit Chadashah, os saduceus, ao questionarem Yeshua acerca da ressurreição citaram, em Mt 22, um caso de uma mulher que teve a infelicidade de se casar e ficar viúva por sete vezes... 

Uma pessoa que se casa pela segunda, terceira vez, independente do fato de ter ficado viuva ou de ter tido a infelicidade de um casamento ruim e o divórcio, tem o direito de buscar sua felicidade; nós, como pessoas de bem, que procuram sempre ver e torcer pelo bem do próximo, devemos orar e olhar para que todos possam encontrar um cônjuge que lhes complete e que vivam uma vida conjugal plena de realizações. 

Mas, se alguém ficar viúvo, seja jovem ou velho, e decidir seguir a vida sozinho, que essa pessoa também possa encontrar a felicidade à sua maneira. O que ninguém merece é viver a infelicidade de terminar seus dias na completa solidão.

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