Na parashah de Mishpatim, começamos a ver os estatutos (tradução da palavra hebraica Mishpatim) que o Eterno deu aos filhos de Israel. Sabemos que são 613 mandamentos, relacionados a vários aspectos da vida judaica, mas nem tudo é tão simples assim como parece. Por exemplo: Moshê subiu ao monte Sinai, e de lá desceu com as tábus da lei (10 mandamentos) e com o livro da lei (êx 24:7) e o povo começou a cumprir a Torah, como havia prometido, na famosa frase: "faremos e obedeceremos" (Êx 24:8)?
A verdade é que, assim como a constituição de um país leva anos para ser elaborada, e até que o povo tome conhecimento e a lei seja aplicada, não foi coisa de minutos e Moshê desceu com toda a lei ao povo israelita que perambulava pelo deserto.
Toda a parashah de Mishpatim é interessante, e o sábio deve aplicar-se a aprofundar no conhecimento e derivações de cada mandamento ali expressado, mas vejamos os versos finais, do Maftir:
Êx 24:15-18 - “ Subiu Moisés ao monte, e a nuvem cobriu o monte. E pousou a honra do Eterno sobre o monte Sinai, e cobriu-o a nuvem SEIS DIAS; e chamou a Moisés no SÉTIMO DIA, do meio da nuvem. E a aparência da glória do Eterno era um fogo consumidor sobre o cume do monte, aos olhos dos filhos de Israel. E entrou Moisés pelo meio da nuvem e subiu ao monte, e esteve Moisés no monte QUARENTA DIAS E QUARENTA NOITES.”
Moisés havia ido até ao Monte (antes de subi-lo) com Josué, Arão, Nadabe, Abiú e mais setenta anciãos de Israel. Daí só Moisés sobe. Uma vez lá, porque Deus não lhe apareceu de uma vez? Mas não, teve uma nuve, que ficou seis dias cobrindo o monte, e só no sétimo dia é que Moisés foi chamado. Por fim, ele ficaria ali quarenta dias seguidos, para depois descer ao povo.
São várias liçoes que podem ser tiradas disso tudo. Por exemplo, o povo estava lá, esperando. Será que não poderia ser mais rápido o processo? Por quê fazer um povo, homens, mulheres e crianças esperarem todo esse tempo?
Imagine Moshê lá no alto da montanha e vem uma nuvem e nada, fica lá, parada por uma semana. Que angústia não?
Isso tudo contrasta com a pressa que vivemos hoje. Acordamos e já vemos o jornal que praticamente instantaneamente mostra notícias do mundo todo; coisas que estão acontecendo naquele momento.
Daí saímos e vamos trabalhar. Quem utiliza computador, internet, deve se dar conta de que a internet fica cada vez mais veloz e entretanto, isso parece não ser suficiente.
Lembro-me que há não muitos anos atrás, a internet discada era o que havia, e todos exercitavam a paciência diante daquele barulhinho que o computador fazia ao discar.
É um enorme constraste com a velocidade de hoje em dia, em que um filme em alta definição demora menos de meia hora para ser feito o download, e ainda assim ficamos bravos pela "lentidão". Não por acaso, desaprendemos a apreciar as coisas.
Antes almoçavamos, apreciávamos o gosto dos alimentos; hoje, engolimos algo num fast food. Antes, viamos nossos filhos nascer, curtíamos cada dia, cada fase da infância deles, havia tempo para brincadeiras; hoje, quando vemos, nossos filhos já estão adolescentes e logo saem da casa.
O que Moshê teve não foi meramente paciência, mas uma oportunidade de desfrutar de quarenta dias com D-us, no alto de uma montanha. E é isso que precisamos.
Se o estudo da parashah demora mais de 50 minutos, não se desespere para ir embora, desfrute do aprendizado. Se as rezas demoram, não reclame, reze!
A bíblia diz em Eclesiastes, num texto muito conhecido: "Há tempo para todas as coisas, todo o propósito debaixo dos céus"
Todos pedimos coisas a D-us em nossas preces. Todos temos ansiedade para que algo chegue a nós logo, mas que tal exercitar a paciência e a contemplação?
Israel, todo um povo no meio do deserto e Moisés lá, no alto do monte, no meio de uma nuvem... haja paciência.
Se aprendermos a esperar, a confiar no tempo de D-us para nossas vidas, contemplaremos as bênçãos de D-us sobre nós. Mas por outro lado, os apressados nunca atingirão a plenitude com o mérito de terem esperado pelo tempo de D-us. Paciência!