sexta-feira, 23 de março de 2012

Vayikrah e o primeiro sacrifício

O começo do livro de Levítico pode até parecer um tanto desagradável, falando dos tipos de sacrifícios, mas especialmente os que representavam a expiação dos pecados dos homens. Ninguém gosta de falar sobre seus erros, sobre pecados, mas a verdade é que todos precisamos nos sentir perdoados. Não por acaso já vimos muitas cenas de filmes, novelas e da vida real de pessoas que, nos últimos momentos da vida, no leito de morte, pedem perdão a parentes, se arrependem de erros cometidos, etc...
Mas quais foram os primeiros sacrifícios?
Lá, com Adão e Eva a Torah declara que eles estavam nus e não se envergonhavam (Gn 2:25) Não se envergonhavam porque não tinham feito nada de errado, e por isso andavam nus, sem pecado, sem necessidade de se esconderem. Tão logo pecaram, sentiram necessidade de se cobrirem (Gn 3:7) e fizeram uma "roupa" com filhas de figueira. Esqueçamos por um momento a nudez física e os trajes de folhas, mas pensando um pouco mais adiante... toda vez que erramos, nos cobrimos de vergonha, nos escondemos. E isso foi o que eles fizeram, mas uma roupa de figueira não era a cobertura ideal. Mas o que isso tem a ver com sacrifícios de pecados?
A atitude do Eterno, ao protegê-los, cobrindo suas vergonhas. Em Gn 3:21 lemos: “E fez o Senhor D-us a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu.” Com a túnica de peles, que veio de um sacrifício de animal, HaShem cobre a vergonha deles.
O Eterno não deseja que estejamos envergonhados para sempre, e Ele providenciou o meio pelo qual podemos ter nossa vergonha pelo pecado coberta. Depende somente de nós aceitarmos essa cobertura e proteção que Ele nos proporciona, assim como depende só de nós querermos ficar encobrindo nossos pecados com folhas de figueira. O sacrifício já foi feito, basta a coragem de buscarmos nos cobrir com ele e assim nos livrarmos do peso da culpa e de ficarmos muitas vezes, como Adão e Eva, nos escondendo do Eterno.
Estamos chegando no Seder, no Pessach, é hora de sairmos da escravidão e da prisão do pecado para a liberdade, passando pelo sangue do Cordeiro de D-us, e colocando-o sobre as vergas das portas. É como eu digo muitas vezes: Errar, todo mundo erra, a diferença entre as pessoas está no que ela faz depois do erro cometido. Buscar o perdão divino ou ficar se escondendo. Entenda o que significa o sacrifício pela expiação de pecados e sinta-se abrigado pelo Perdão que só HaShem é capaz de nos proporcionar.

terça-feira, 6 de março de 2012

Vaiakhel, Pekudei, vamos trabalhar e aprender juntos...


Agora que estamos finalizando o livro de Shemot, com duas porções JUNTAS, é propício meditarmos no fato de que podemos e devemos trabalhar JUNTOS. Essa é uma lição que nos ensinaram dois grandes mestres dos tempos de Moshê Rabeinu: Aoliabe e Bezalel.

A Torah declara: “Porque Moisés chamara a Bezalel, e a Aoliabe, e a todo homem sábio de coração em cujo coração o SENHOR tinha dado sabedoria, isto é, a todo aquele a quem o seu coração movera que se chegasse à obra para fazê-la.” (Êx 36:2) Esses dois homens eram mestres, artistas, trabalhavam com vários tipos de materiais diferentes e tinham um grande dom. Junto com eles, vários outros homens sábios trabalhavam na construção e montagem do Mishkan.

Mesmo quando se tem mais “talento e capacidade” do que os outros, como era o caso desses dois homens, o sábio é aquele que consegue compartilhar as atividades, dividir as responsabilidades, embora tenha ciência de que a maior responsabilidade é dele.

Aoliabe e Bezalel eram os responsáveis, mas a diferença deles para muitos hoje é que: “Também lhe tem disposto o coração para ensinar a outros, a ele e a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã.” (Êx 35:34)

Compartilhar de seu conhecimento, sabedoria com pessoas de menos capacidade (ou que não tiveram a oportunidade certa) é um privilégio. Ver a evolução das pessoas, a alegria delas em aprender é algo valioso e de forma alguma diminui o “status do profissional” que o ensina.

Há alguns anos atrás fiz parte de um projeto voluntário (que ainda existe) chamado CDI - Comitê para Democratização da Informática - em que fiz um curso para aprender a dar aulas para comunidades carentes. Foi pouco tempo, mas uma experiência fantástica e enriquecedora. Dei aulas para jovens órfãos, que viviam numa instituição que os abrigava. A alegria deles diante de um computador, aprendendo a digitar as primeiras palavras, lições de cidadania, fazia com que eles percebessem que eram respeitados, e que o "professor" não estava ali para os humilhar, mas para compartilhar de experiências e conhecimento. Todos deveriam gastar um pouco de tempo para ensinar os outros, sem se vangloriar, apenas pelo prazer de ser Aoliabe e Bezalel, que tinham o coração disposto para ensinar os outros.

Há muitas coisas para se fazer, você que toca instrumentos pode ensinar musica, você que canta, pode ensinar a cantar, montar um coral (ainda que todos sejam desafinados) e dar oportunidade aos outros, você que trabalha com computador, pode ensinar noções básicas, internet, enfim... sempre há pessoas que podem aprender, desde que você esteja com o coração de Aoliabe batendo no peito.