quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Noach e a beleza do arco-íris



“O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra” (Gn 9:16)

A visão de um arco-íris que se forma no céu, logo após uma chuva é algo que fascina a praticamente todas as pessoas, não apenas por sua rara beleza, mas também por seus diversos simbolismos e alegorias a ele atribuídos. 
O arco-íris já foi simbolo da paz, hoje é um símbolo “adotado” pelo movimento gay, aliado a coisas como a diversidade; ele também é parte de uma antiga estorinha infantil, provavelmente irlandesa, que quem encontrar seu final alcançará um pote de ouro; também há os físicos, que dizem que o arco-iris é uma ilusão de ótica, causada pela dispersão da luz do sol que em contato com as gotículas de chuva na atmosfera causa esse efeito, etc...  para mim, particularmente, o arco-íris é um símbolo da generosidade divina. 

O ser humano tem o péssimo costume de tentar estudar e entender os fenômenos da natureza, de certa forma, pra descredenciar ao Eterno. Por quê é tão difícil simplesmente aceitar que foi HaShem quem criou o arco-íris como uma forma de Ele e nós vermos a Sua promessa e o pacto com Noé, feito há cinco mil anos atrás? 

Mas de onde vem o arco-íris? Primeiro, e principalmente, da vontade do Eterno e segundo, vamos lembrar a história:
O homem, a cada nova geração, tornava-se mais egoísta e distanciava-se da vontade divina a cada dia, e quando chegou ao limite, com a maldade se multiplicando, isso fez com que o Eterno decidisse por destruir aquela geração toda, mas tinha Noé, o justo. 
Não adianta, sempre vai haver algum justo pra fazer o que é certo. E Noé foi o responsável, escolhido por Deus, para recomeçar a povoar o planeta e foi aí que o Eterno apresentou a ele (e a nós). Esse mesmo Noé teve a honra de ser o primeiro a ver o arco-íris, muito antes da bandeira LGBT, muito antes do pote de ouro, e o recebeu com a simplicidade daqueles que acreditam que o arco era apenas e tão somente um sinal da misericórdia divina. 

Vivemos reclamando das dificuldades, do mundo perverso em que vivemos, e o noticiário desnuda a cada dia a realidade brutal de assassinatos, golpes, drogas, zombaria, assaltos, mas a verdade é que a bondade do Eterno continua se relevando a cada novo dia diante de nossos olhos. São os nossos olhos que estão mal treinados, e que atentam para o que é errado e não para o que é correto. Precisamos mudar o foco...

O profeta Isaías disse: “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça. Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos, de iniqüidade; os vossos lábios falam mentiras, e a vossa língua profere maldade. Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniqüidade” (Is 59:1-4)

Talvez seja hora de percebermos que é tempo de Tikkun Olam (restauração o mundo), tempo de estendermos a mão ao próximo, de reconheermos nossos erros e encontrarmos diante de nós a mão do Senhor estendida para nos salvar. Deixar de lado os sentimentos negativos, as tentações, a ira, a inveja, o ódio e compreendermos que são os nossos pecados (e não os pecados alheios)  que nos afastam do Criador, assim como nos dias do profeta. 

Se voltarmos nossos olhos para D-us, seremos capazes de percebermos toda a beleza do arco-íris, algo que vai além de um caleidoscópio colorido; seremos capazes de ver a bondade do Criador sendo revelada diante de nossos olhos. 

Que D-us, em sua infinita bondade, nos permita de abrirmos nossos olhos e vermos um belo arco se formando, como um sinal de misericórdia sobre nossas vidas, e como prova de que Ele, o sagrado, não vai nos destruir, mas tornar nosso mundo e nossa vida cheia de cores e felicidade. Vá além do que seus olhos podem enxergar; enxergue com o coração e encontrarás a beleza real do arco de D-us.

*** Para este segundo ciclo de estudos da Torah, a parashah de Noach compreende os textos de Gn 8:15 a 10:32.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Bereshit e as lições atuais de Caim e Abel


“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.” (1 Jo 4:20,21)

Sempre ouço palestras de um rabino que diz: “tudo que acontece está de alguma forma relacionado ou relatado no livro de Bereshit” e é a mais absoluta verdade em muitos aspectos. Hoje reiniciamos o ciclo da Torah (para nós, que seguimos o ciclo trienal, iniciamos o segundo ciclo) e nessa primeira parashah temos o relato da criação da mulher, o pecado de terem comido “da maçã” e a história de Caim e Abel. 

Olhando o texto da Torah em Gn 4:9 temos: “Vayomer Adonay el-Kayin ey Hevel achicha vayomer lo yadati hashomer achi anochi”, ou seja: “Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?”

É difícil de acreditar que num mundo tão pequeno, resumido a quatro pessoas, uma delas ainda tenha a capacidade de assassinar a outro por ciúmes, inveja; é ainda mais chocante se pensarmos que o assassino era irmão mais velho do assassinado. Tem coisas que parecem só serem concebíveis em novelas, mas infelizmente essa é uma das coisas que acontecem na vida real. 

Caim traz sua oferta voluntária a D-us (se observarmos o texto veremos que o Eterno não pediu essa oferta) e logo depois foi a vez de Abel, que trouxe também sua oferta, tiranda dentre os primogênitos de suas ovelhas. Acontece que o Eterno se agradou da oferta de Abel e não da de seu irmão. 
Pronto! foi o que bastou para Caim se irar a tal ponto de matar seu irmão. 

O sábio diz: “Não te apresses em irar-te, porque a ira se abriga no íntimo dos insensatos.” (Ec 7:9)
Não temos a necessidade de estar em evidência, de sermos os melhores, os mais admirados, que dão as melhores ofertas, ou qualquer coisa que nos promova. Isso não tem valor algum diante de D-us. Quem tem esse sentimento e busca se auto-promover age como um tolo, sua oferta acaba não sendo recebida com agrado pelo Eterno e pior, terá despertado dentro de si o mesmo sentimento de Caim, o ódio gratuito. 

É nosso dever amar ao próximo, isso foi dito por Moshê, por Yeshua, pelos apóstolos e por todos os pregadores atuais; o texto da carta de João é bem claro: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.” (1 Jo 4:20,21)

Não se deixe levar pelo espírito de Caim, e quando o Eterno te perguntar, onde está teu irmão, não caia no pecado, no erro de responder: “Não sei, por acaso eu sou guardador de meu irmão?”

Todos somos responsáveis uns pelos outros. Vivemos em uma sociedade de 8 bilhões de pessoas, mas nossa congregação, nossa comunidade, nossa família se resume a poucas pessoas. Se não formos capazes de amar nossos irmãos, de cuidarmos deles, estaremos os matando, da mesma forma que Caim matou Abel. 

No mesmo contexto, em Gênesis 4:8 temos: “E disse Caim a seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, levantou-se Caim contra Abel, seu irmão e o matou.”

Algumas versões em português trazem a frase: “Disse Caim a seu irmão Abel: vamos ao campo...” mas na verdade, essa frase final (vamos ao campo) não existe nos originais. O que isso significa? Significa que a Torah não relata o que Caim disse a Abel... mas por quê? Porque isso não importa e nada do que Caim dissesse a Abel justificaria o fato de alguém matar a seu próximo. Essa é uma lição fascinante da Torah para nossa vida diária. Nada justifica maltratarmos ao nosso irmão. Não existe justificativa para alguém que por ciúmes, inveja ou movido por qualquer outro negativo, queira matar seu irmão.

Somos chamados para amar ao próximo, não apenas para amar a um e odiar a outro. Vejamos as palavras de Yeshua:
“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5:46-48) 

Não por acaso, na sequência dessas palavras, Ele fala das ofertas (ou tsedaka) ou esmolas... que não devemos fazer com o objetivo de sermos vistos pelos demais, tocando trombetas, pois só os hipócritas fazem isso. Exatamente como Caim. 

Para encerrar, sobre isso, o Talmude, no tratado de Pirke Avot, capítulo 5:17 diz: “Há quatro categorias de pessoas no que diz respeito ao exercício da caridade. Há os que dão e não querem que os outros dêem; são os invejosos. Há os que fazem com que as outras pessoas dêem, mas não querem dar; são as pessoas avarentas. Há os que dão e promovem que os outros dêem também, são os homens devotos. Finalmente, há ainda os que não dão e não querem que os outros dêem, são os ímpios. 

Que tipo de pessoas somos nós? 
Desejo a todos um feliz 5775 e que nesse ano, encontremos espaço em nosso coração para amar ao próximo e verdadeiramente termos cuidado uns dos outros, pois quem ama ao próximo cumpre a Lei.